No passar insano das horas,
Perco-me no tic-taquear de um velho relógio
Que insiste em me acompanhar.
O som dos minutos me ensurdece na solidão em que me encontro.
Agarro-me aos ponteiros na tentativa de pará-lo,
Mas ele arrasta-me através do seu incansável movimento.
Grito, choro, me desespero, mas o tempo é cruel.
Ele não nos dá sequer uma chance para pensar.
Pulando de um ponteiro ao outro, busco pelo tempo
Que nem vejo passar.
No galgar dos números vejo rostos,
Sinto gostos, mas não vejo a vida.
No tilintar do pêndulo
Percebo o esvaziar de minh’alma.
Passam segundos, minutos, horas...
Sinto-me aprisionada no tempo,
Desse relógio insano,
Desse absurdo astrológico,
Que movimenta sempre para frente,
Mas nos leva para trás.
Por que não abandonar o corpo no espaço?
Por que não deixar o corpo desafiar a lei da gravidade?
A cada reflexão sinto-me mais enredada nessa teia do tempo,
Mais e mais envolvida em sua trama
Apenas à espera da enorme aranha que me envolve
Para depois me devorar.
A cada volta do relógio, mais fio envolve meu corpo
Deixando-me imobilizada, imóvel,
Quase sufocada,
Tirando-me as forças para tentar.
Troco o ponteiro dos minutos pelo das horas
Numa tentativa inconseqüente da hora não passar,
Não movimentar, não sentir,
Por não mais poder lutar.
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