sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Luz e escuridão = explosão


Um dia eu acordei e uma luz ao meu lado.
Seu brilho era tão intenso que me cegou, me deixou leve, me fez voar. A alegria que seu brilho me causava me fazia seguí-la pelo mundo inteiro cegamente.
Sem questionar atravessei vales, rios e montanhas sem perceber que quanto mais a segui, mais me afastava de mim...
Um dia eu acordei e estava cercada pela luz, mas aos poucos, a imensa roda de luz foi se transformando em uma imensa roda de fogo.
Tentei fugir, gritar, mas fui vencida pelo cansaço. Sentei-me e procurei dentro de mim forças para resistir, mas descobri que eu não morava mais em mim.
Apenas a casca ainda estava em pé, a alma estava morta. Minha alma fora despedaçada em meu vôo insano e seus pedaços foram espalhados por toda a galáxia.
Desconsolada, me resignei. Meus gritos de socorro foram para sempre transformados em um choro minguado, silencioso, quase imperceptível.
Um dia eu acordei e não estava mais cercada pelo fogo. Estava sozinha no escuro, mas assim que me levantei, demônios sugiram das sombras e me cercaram por todos os lados.
Quanto mais tentava me esquivar, mais me atacavam, xingavam, agrediam. Tentavam me enlouquecer, mas nada mais podia me machucar, pois há muito os sentimentos haviam me abandonado.
Sentei e suportei calada todas as humilhações até meus tímpanos estourarem.
Chegei a desejar a morte, mas lembrei-me que já estava morta, apenas esqueceram de me enterrar.
Um dia eu acordei e descobri uma um pequeno brilho em meu bolso, uma luzinha com um brilho intenso. E com ela espantei meus demônios e senti a alegria voltar de novo a minha vida.
Abraçada à minha luzinha tentei encontrar uma saída, tentei iluminar o meu caminho com ela, mas era um fardo muito grande para algo tão pequeno.
Tentei alçar vôo, mas sua intensidade era pouca para tanta carga de negatividade acumulada por longos e tristes anos. Foi então que encontrei a saída, mas ela estava muito alta para que eu pudesse alcançar com minhas próprias pernas.
Num pequeno gesto, estiquei mina mão e coloquei minha luzinha na direção da saída para que pudesse se libertar. Senti que meu gesto causou ao mesmo tempo uma euforia e uma grande tristeza na minha pequena companheira, mas era minha missão libertá-la.
Meu coração, embora escuro, vazio e sozinho estava mais feliz agora.
Um dia eu acordei, dormi, acordei e dormi de novo e tudo continuava escuro. Não existia mais nada. Tudo havia virado pó.
Só eu continuava ali no mesmo lugar. Nem mesmo a morte conseguia mais me alcançar. Havia me tornado parte daquela escuridão toda e, por mais que eu tentasse, não havia mais como me separar dela sem que desintegrasse a única coisa que me restou: a certeza da liberdade da minha luzinha.
Decidi, então, não mais dormir e ficar sempre alertas para os perigos que podem surgir entre um anoitecer e um novo amanhecer e evitar perigos e surpresas. Depois de uma noite vem um novo amanhecer e, com ele novas surpresas, que dependendo das escolhas feitas na vida, nunca são agradáveis.
Cada amanhecer traz consigo um dia muito pior que o outro e, como não posso impedir o sol de nascer, não deixarei mais que a escuridão faça guarida aos perigos que me esperam.
Não me iludo mais com o brilho de falsos diamantes ou com o fogo que finge me aquecer para depois me queimar. Espero agora um final, aos menos digno, para um corpo cansado de vagar em vão. E que essa luta incessante entre forças possa trazer a pelo menos uma das partes o gosto da vitória, a sensação agradável de ter atingido o seu objetivo na vida.
E se cada lágrima derramada por mim em minha prisão sem muros tiver se transformado em uma pequena flor colorida, talvez eu tenha iluminado o dia de alguém com um brilho fraco, mas verdadeiro.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Auto-retrato


Eu sou uma palavra vazia,
Um buraco negro que insiste em sobreviver.


Sou algo inexplicável, inexplorável,
Ou talvez seja apenas igual.
Uma pequena gota solta num oceano.


Uma gota que insiste em se manter etérea.
Mártir de uma guerra sem ideais
Alguém tentando sobreviver na multidão.


Perfeita combinação entre o óleo e a água;
Amando os extremos e odiando arestas soltas;
Livre, sem soltar amarras;
Apenas esperando a calda do cometa,
Vago pelo universo
Rasgando ordens e leis
Aguardando sangue correrem em minhas veias.


Vasto mundo de antíteses
Aguardando quem lhe ponha ordem.
Ziguezagueando na minha mente
Inesperadamente transformando-se em
Amor.






Eu sou uma palavra vazia
Sou algo inexplicável
Uma pequena gota solta no oceano
Palavra que segue em vão
Vazia, perdia e inimaginável.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O mar


Eu gosto do mar, das ondas batendo nas pedras, no misto de gosto de sal e areia que fica na boca após um final de tarde na praia.
Chego a ouvir o barulho das ondas quebrando nas pedras numa tentativa inacreditável de inundar o mundo. Porém, até mesmo as ondas perdem as forças e se rendem à força do homem.
Vez por outra, ouve-se falar de uma revolta da natureza onde as ondas impõem suas vontades e causam catástrofes, mas, no geral, o que acontece mesmo é que as ouvimos gritar, esbravejar, mas se deixar subjugar.
Cada onda que chega a praia não passa desapercebida, pois seu estrondo faz-se ouvir de longe, porém o que para muitos parece uma ameaça, é apenas um lamento de dor, um pedido de acalanto, de amparo.
Apesar de estar muito longe de qualquer praia, eu consigo ouvir o mar em meus ouvidos.
Consigo acompanhar o seu vai-e-vem incessante em meus pensamentos.
O mar está tão presente em meu caminhar que nem mesmo uma concha poderia reproduzir tão perfeitamente o som em meus pensamentos.
Os homens roubam do mar territórios, mas o mar devolve tudo que lhe é emprestado.
Por ele podemos dar a volta ao mundo, conhecer novos continentes, novas amizades, mas nem residem vida e morte em perfeita harmonia. Feio e belo, amores e tragédias.
É nele que muitos esperam respostas para seus temores e angústias, mas em vão, pois não entendem as suas palavras.
Eu ainda consigo ouvir o mar. Talvez porque ainda tente entender o que ele me falou.

Tic-tac

No passar insano das horas,
Perco-me no tic-taquear de um velho relógio
Que insiste em me acompanhar.
O som dos minutos me ensurdece na solidão em que me encontro.
Agarro-me aos ponteiros na tentativa de pará-lo,
Mas ele arrasta-me através do seu incansável movimento.
Grito, choro, me desespero, mas o tempo é cruel.
Ele não nos dá sequer uma chance para pensar.
Pulando de um ponteiro ao outro, busco pelo tempo
Que nem vejo passar.
No galgar dos números vejo rostos,
Sinto gostos, mas não vejo a vida.
No tilintar do pêndulo
Percebo o esvaziar de minh’alma.
Passam segundos, minutos, horas...
Sinto-me aprisionada no tempo,
Desse relógio insano,
Desse absurdo astrológico,
Que movimenta sempre para frente,
Mas nos leva para trás.
Por que não abandonar o corpo no espaço?
Por que não deixar o corpo desafiar a lei da gravidade?
A cada reflexão sinto-me mais enredada nessa teia do tempo,
Mais e mais envolvida em sua trama
Apenas à espera da enorme aranha que me envolve
Para depois me devorar.
A cada volta do relógio, mais fio envolve meu corpo
Deixando-me imobilizada, imóvel,
Quase sufocada,
Tirando-me as forças para tentar.
Troco o ponteiro dos minutos pelo das horas
Numa tentativa inconseqüente da hora não passar,
Não movimentar, não sentir,
Por não mais poder lutar.