segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Não se pode confiar em ninguém





Encontrei Marcos fazendo compras em uma grande rede de supermercados.
Fazia tempo que a gente não se via, então, Marcos decidiu me acompanhar enquanto fazia minhas compras.
Íamos caminhando e conversando pelas gôndolas do mercado e éramos acompanhados por uma sorridente senhora, que prestava atenção em cada palavra que trocávamos.
Puxei pela memória, tentando associar a imagem daquela senhora na vida de meu amigo, mas não conseguia me lembrar de quem se tratava.
Marcos não parecia incomodado com a companhia da sorridente senhora que ia enchendo seu carrinho, enquanto Marcos carregava apenas dois ou três itens em sua cestinha.
Imaginei que a senhora estava fazendo as compras da casa, enquanto ele supria suas necessidades mais urgentes, pois em sua cestinha havia apenas uma pasta de dentes, dois sabonetes, algumas pilhas e um xampu barato.
Eu estava mesmo intrigada, pois, além de não me lembrar da “suposta parenta” de meu amigo, seus acenos constantes e sorrisinhos amigáveis já estavam me deixando irritada.
Como realmente, por mais que puxasse pela memória, não conseguia me lembrar dela e, sabia que a mãe de Marcos já tinha falecido há mais de 10 anos, resolvi perguntar quem era a estranha figura.
Marcos me respondeu que chegou no mercado muito aborrecido, pois seu casamento tinha chegado ao final e sua ex-esposa resolveu iniciar uma enorme briga judicial pela guarda das crianças quando essa senhora chegou perto, perguntou o porquê de sua aparência tão triste e falou-lhe que ele se assemelhava muito com seu filho que falecera há apenas dois meses. Daí por diante passou a acompanhá-lo.
Que mal podia haver? Que perigo poderia representar uma senhora tão simpática?
Eu não pensava apenas na velhinha, imaginava o “filho” da velhinha que pudesse estar nos esperando do lado de fora.
Eu, que já estava o suficiente incomodada com a situação, comecei a me apavorar.
Comecei a pensar há quanto tempo essa senhora poderia estar “acompanhando” o meu amigo. Talvez estivesse andando atrás dele desde o calçadão e, como estava triste e desanimado com sua condição, não percebeu.
Enquanto olhava para a sorridente senhora, perguntei ao meu amigo se ele tinha feito alguma retirada no banco ou recebido o seu salário e a resposta foi um suspirante não.
Quanto mais andava pelos corredores do mercado, mais me intrigava com a figura.
Marcos parecia não se importar, afinal, em seu estado, qualquer tipo de atitude simpática lhe servia de consolo.
Como eu já ando suficientemente assustada com tanta violência, resolvi terminar minhas compras e me dirigir ao caixa para pagar as minhas compras.
A senhora, vendo que nos dirigíamos aos caixas, correu para entrar na frente de Marcos.
Ao chegar ao caixa a senhora beijo meu amigo no rosto e lhe fez um pedido ao pé do ouvido:
- Ao me despedir, posso lhe chamar de filho? E você me responderia me chamando de mãe?
Marcos achou que o pedido era inocente e bem razoável para uma pessoa que perdera o filho há tão pouco tempo e respondeu que sim.
Esperamos que a senhora passasse item por item de seu abarrotado carrinho enquanto conversávamos sobre coisas triviais.
Só percebemos que ela já tinha acabado de “passar” suas compras quando ouvimos de longe a despedida:
- Até mais tarde, meu filho!
Marcos, distraidamente respondeu:
- Até mais tarde, mãe.
Marcos foi colocando vagarosamente, como quem não quer voltar para casa, seus poucos itens na esteiras do caixa do mercado.
Quando passou o último item, o caixa anunciou o valor da compra:
- Senhor, são R$ 560,00!
- Como? Respondeu Marcos sem entender o que havia acontecido.
- Comprei apenas uns poucos itens e a conta não poderia ser tão alta!
O caixa já irritado com a falta de atenção do meu amigo, falou rispidamente:
- Não foram poucos itens assim, ou o senhor esqueceu das compras da sua mãe que passaram antes da sua?

5 comentários:

Cadinho RoCo disse...

É preciso estar atento a todo instante neste mundo de tanta esperteza.
Cadinho RoCo

Aмbзr Ѽ disse...

NCN não confie em ninguem... é o que eu sempre digo. serve bem de alerta. ótimo texto. suas crônicas sao muito boas, me lembram ignácio de loyola brandão.

Carla Fernanda disse...

Bom dia! Puxa vida amiga, pessoas assim fazem o mundo mais feio, mas não podemos perder a fé e esquecer de acreditar na magia e na maravilha de outras tantas coisas, por causa de golpes, trapaças, maldades e mais coisas desse tipo. Beijos,
Carla Fernanda

Anônimo disse...

Agradeço a todos que aqui deixaram seus comentários e seu carinho

Al Reiffer disse...

É, não se pode não. Abraços!