terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dona Maria Lúcia




Quando mudamos para nossa casa, (digo nossa porque até então morávamos de aluguel), nosso filho estranhou muito a mudança de clima e ficava doente sistematicamente.
Numa dessas andanças de madrugada para levá-lo ao médico fui abordada por uma mãe que, muito preocupada com o estado do meu garoto, veio perguntar qual era o problema dele e eu disse que era asma.
A mocinha então veio me pedir o endereço para mandar a tia com um remédio, do tipo simpatia, para mim. Eu não acredito muito nessa história de simpatia, mas pela pouca idade da jovem e pela boa vontade resolvi dar o meu endereço para ela.
O tempo se passou e ninguém apareceu na minha casa, o que eu julguei ser normal, pois muitas vezes falamos coisas para sermos simpáticos com os outros, não significa que iremos realmente fazer.
Numa tarde fria uma senhorinha, bem pequenina bate a minha porta com o papel onde dei o endereço para a menina numa das mãos e dois embrulhos de papel toalha na outra.
Ela se apresentou e foi dizendo logo o que deveria fazer com cada um dos pacotinhos e foi se despedindo perguntei se deveria pagar alguma coisa e ela foi me dizendo que não, que essas coisas não se cobra e dizendo que na próxima lua minguante traria mais do remédio.
Na lua minguante lá estava a insistente senhora com seus pacotinhos na mão.
Dessa vez eu tinha que fazer algo para ela.
Perguntei de onde ela vinha se era muito longe, se queria dinheiro para a condução e ela disse que morava perto, que tinha vindo a pé e mais uma vez se negou a receber qualquer centavo que fosse de mim. Então ligamos o carro e fomos levá-la em casa.
Quando fomos levá-la em casa descobrimos que aquela senhora andava e muito até chegar até a nossa casa e mesmo assim se negava a receber dinheiro para voltar para casa.
Naquele momento eu percebi que estava diante de uma criatura ímpar, sem igual.
Ao longo do “tratamento” do meu filho fomos criando uma certa intimidade com aquela pessoinha tão linda.
Dona Maria Lúcia, ou Lúcia, como gostava de ser chamada era caseira em um sítio onde o proprietário mantinha um centro espírita (de onde vinha o remédio) e recebia meio salário mínimo para tomar conta e fazer todo serviço da casa. Fazia uns bicos por fora para sustentar 3 netos de uma filha desmiolada que sumira no mundo deixando seus rebentos para ela criar.
Era muito agradável quando ela vinha com o remedinho nas mãos e íamos levá-la em casa.
Nunca aceitou qualquer ajuda financeira para isso, mas se ofereceu para lavar e passar minha roupa por 1,00 a peça, seja ela qual fosse!
As roupas chegavam branquinhas e cheirosas como só a minha avó sabia fazer!
Ela usava folhas de lavanda na última enxaguada para dar aquele perfume inigualável!
Com as roupas eu tinha mais tempo para conversar com aquela pessoa de andar lento e de uma doçura na voz que mesmo as agruras da vida não conseguiu contaminar.
Era de uma sabedoria infinita, embora não soubesse nem mesmo escrever o seu nome (andava com papeizinhos com o endereço de onde deveria ir para perguntar às pessoas) e tinha uma disposição invejável para trabalhar. Andava quilômetros com suas trouxinhas de roupas na cabeça e como era pequenininha!
Durante sete luas minguantes Dona Lúcia trouxe o remedinho para meu filho e durante todo esse tempo tivemos uma relação muito prazerosa.
Sempre fiz o chá para meu filho segundo as suas recomendações sem questionar, sem tirar do pacotinho, afinal, uma pessoa tão bonita não poderia estar querendo fazer mal ao meu garoto, mas sempre fiquei intrigada com seu conteúdo e perguntava para ela, que sempre me dava a mesma resposta: Eu não sei. Quem faz é meu patrão e como ele me entrega eu passo para você.
Na última das sete luas minguantes, eu não resisti e abri para ver o que tinha dentro e tomei o maior susto da minha vida. Os pacotinhos na verdade eram recheados de dormideiras!
Isso mesmo! Dormideiras. Aquelas plantinhas que a gente encontra pelo mato e que se fecha e que na década de 70 o pessoal se drogava com ela.
Devia ter todo um ritual antes daquilo chegar até a minha casa, mas era o que menos me importava naquele momento. A verdade era que durante 6 luas minguantes eu tinha drogado meu filho sem saber.
Perguntei ao meu marido o que deveria fazer ele me respondeu que se ele já tinha tomado 6 vezes e não tinha feito mal, não seria agora que faria.
Certamente nada adiantaria falar com a Dona Lúcia sobre o remédio ou falar que na década de 70 as pessoas se drogavam com aquilo, pois provavelmente nessa época estava em algum sítio longe de todo esse agito e jamais ouvira falar sobre o assunto.
Naquele momento entendi porque dava o remedinho para meu filho e ele dormia o sonho dos anjos. Era chá de dormideira e, como o nome já diz, faz dormir. Nunca tive coragem para pesquisar as aplicações terapêuticas do chá e nunca mais espero ter que usá-las, mas a verdade é que a asma do meu filho desapareceu, a planta onde enterrava os saquinhos morreu e não se falou mais sobre o assunto, até porque eu não recomendaria o tratamento para alguma outra mãe desavisada.
O tempo se passou, meu filho cresceu, os netos dela também, mas até hoje quando a encontro na rua faço questão de abraçar e beijar essa pessoa tão linda que passou pela minha vida.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Não se pode confiar em ninguém





Encontrei Marcos fazendo compras em uma grande rede de supermercados.
Fazia tempo que a gente não se via, então, Marcos decidiu me acompanhar enquanto fazia minhas compras.
Íamos caminhando e conversando pelas gôndolas do mercado e éramos acompanhados por uma sorridente senhora, que prestava atenção em cada palavra que trocávamos.
Puxei pela memória, tentando associar a imagem daquela senhora na vida de meu amigo, mas não conseguia me lembrar de quem se tratava.
Marcos não parecia incomodado com a companhia da sorridente senhora que ia enchendo seu carrinho, enquanto Marcos carregava apenas dois ou três itens em sua cestinha.
Imaginei que a senhora estava fazendo as compras da casa, enquanto ele supria suas necessidades mais urgentes, pois em sua cestinha havia apenas uma pasta de dentes, dois sabonetes, algumas pilhas e um xampu barato.
Eu estava mesmo intrigada, pois, além de não me lembrar da “suposta parenta” de meu amigo, seus acenos constantes e sorrisinhos amigáveis já estavam me deixando irritada.
Como realmente, por mais que puxasse pela memória, não conseguia me lembrar dela e, sabia que a mãe de Marcos já tinha falecido há mais de 10 anos, resolvi perguntar quem era a estranha figura.
Marcos me respondeu que chegou no mercado muito aborrecido, pois seu casamento tinha chegado ao final e sua ex-esposa resolveu iniciar uma enorme briga judicial pela guarda das crianças quando essa senhora chegou perto, perguntou o porquê de sua aparência tão triste e falou-lhe que ele se assemelhava muito com seu filho que falecera há apenas dois meses. Daí por diante passou a acompanhá-lo.
Que mal podia haver? Que perigo poderia representar uma senhora tão simpática?
Eu não pensava apenas na velhinha, imaginava o “filho” da velhinha que pudesse estar nos esperando do lado de fora.
Eu, que já estava o suficiente incomodada com a situação, comecei a me apavorar.
Comecei a pensar há quanto tempo essa senhora poderia estar “acompanhando” o meu amigo. Talvez estivesse andando atrás dele desde o calçadão e, como estava triste e desanimado com sua condição, não percebeu.
Enquanto olhava para a sorridente senhora, perguntei ao meu amigo se ele tinha feito alguma retirada no banco ou recebido o seu salário e a resposta foi um suspirante não.
Quanto mais andava pelos corredores do mercado, mais me intrigava com a figura.
Marcos parecia não se importar, afinal, em seu estado, qualquer tipo de atitude simpática lhe servia de consolo.
Como eu já ando suficientemente assustada com tanta violência, resolvi terminar minhas compras e me dirigir ao caixa para pagar as minhas compras.
A senhora, vendo que nos dirigíamos aos caixas, correu para entrar na frente de Marcos.
Ao chegar ao caixa a senhora beijo meu amigo no rosto e lhe fez um pedido ao pé do ouvido:
- Ao me despedir, posso lhe chamar de filho? E você me responderia me chamando de mãe?
Marcos achou que o pedido era inocente e bem razoável para uma pessoa que perdera o filho há tão pouco tempo e respondeu que sim.
Esperamos que a senhora passasse item por item de seu abarrotado carrinho enquanto conversávamos sobre coisas triviais.
Só percebemos que ela já tinha acabado de “passar” suas compras quando ouvimos de longe a despedida:
- Até mais tarde, meu filho!
Marcos, distraidamente respondeu:
- Até mais tarde, mãe.
Marcos foi colocando vagarosamente, como quem não quer voltar para casa, seus poucos itens na esteiras do caixa do mercado.
Quando passou o último item, o caixa anunciou o valor da compra:
- Senhor, são R$ 560,00!
- Como? Respondeu Marcos sem entender o que havia acontecido.
- Comprei apenas uns poucos itens e a conta não poderia ser tão alta!
O caixa já irritado com a falta de atenção do meu amigo, falou rispidamente:
- Não foram poucos itens assim, ou o senhor esqueceu das compras da sua mãe que passaram antes da sua?

sábado, 27 de novembro de 2010

Onde está o governador?




O Rio de Janeiro está vivendo uma verdadeira guerra contra o tráfico e o povo pergunta:
- Onde está o governador Sérgio Cabral e suas declarações polêmicas?

Enquanto há o caos...



Ontem a tarde, após o exército ter sido "convocado" para atuar nas ruas do Rio de Janeiro, comecei a ouvir pessoas dizendo que isso era anticonstitucional.
Lógico que as pessoas que falaram essa atrocidade, não mora nem perto de uma área de risco, pois o que eu vi foi o exército ser aplaudido na sua chegada ao Complexo do Morro do Alemão.
Para quem não sabe, eu morei no Rocha, bairro que ficava entre a comunidade do Jacarezinho e a Mangueira. Não era comunidade, mas não podíamos nem sair de casa com tranquilidade. Para quem não sabe onde fica o Rocha, só para lembrar foi onde atiraram no Cantor Marcelo Yuka e, onde recentemente mataram o médico Willian da Silva Castro Alves.
Para entender melhor, morei 4 anos no local e vi duas pessoas serem baleadas e mortas na minha porta - uma levou um tiro na cabeça e tive que ligar uma mangueira para lavar os miolos dela que estava espalhados na porta da minha garagem - tive minha casa arrombada e assaltada diversas vezes e o baile funk, contrariando todas as leis de silencio, estremeciam as janelas da casa até as tantas.
Nessa Rua Itararé, onde está acontecendo o confronto, nós tínhamos um casal de amigos que morava lá e que nos convidou, certa vez, para passarmos as festividades de Ano Novo e posso afirmar que "passei de ano" deitada no chão abraçada ao meu filho que era apenas um bebê porque os traficantes comemoravam atirando para o alto, com armamento pesado, inclusive balas traçantes.
Esses fatos já aconteciam há 15 anos atrás, quando resolvi me mudar para longe da violência.
Gostaria de lembrar a essas pessoas que gostam de criticar e de lembrar que existem os direitos humanos e que podem estar se revoltando com a prisão das esposas e advogados dos traficantes que, direitos humanos devem ser usados para seres humanos, o que, logicamente esses indivíduos não são.
Se morrem mais pessoas nas ruas do Rio de Janeiro do que no Iraque, por que o exército não pode agir?
Fui justamente esse pensamento que deu força para que criassem as milícias.








Vamos dar um basta nessa gente que se aproveita desse tipo de coisa para se promover. Os moradores do Rio de Janeiro já conhecem bem essa história: O sujeito aparece na mídia, critica todos os atos do poder público, montam uma ONG, depois viram deputados estaduais ou federais.
Não podemos mais olhar o traficante como fruto da desigualdade social.
Hoje o traficante usa táticas de guerrilhas, sua família vive em condomínios de luxo.
Outra coisa que gostaria de frisar é que esses homens do exército que estão ocupando as ruas do Rio de Janeiro estiveram em ações no Haiti, não são recrutas inexperientes. 
Se os nossos homens são amados nesse país, por que não pode lutar em uma guerra em seu próprio país?
Essa imagem romântica de traficante com consciência social só existe na ficção!
Uma criança de 9 anos está hospitalizada por se negar leva coquetéis molovs.
Uma outra criança foi apreendida com trinta mil dólares.
Ninguém quer essa guerra, tanto que os policiais firam a proposta para que os traficantes, descessem o Morro do Alemão de cuecas e se entregassem, mas isso não aconteceu até o momento.










Queria aproveitar esse momento para parabenizar os policiais, os homens da marinha e do exército que estão agindo nessa primorosa e urgente ação no Rio de Janeiro. 
Homens, que, apesar dos baixos salários e das precárias condições de trabalho, continuam resistindo bravamente.



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Cidade Aterrorisada





Mais um dia de terror no Rio de Janeiro.
Eu, como não precisava sair, fiquei em casa. Meu marido, por um acaso do destino não foi a Santa Cruz e, se tivesse ido não teria como voltar para casa.
Até o momento, 30 veículos foram incendiados, mais de 100 pessoas foram presas, 26 pessoas morreram. 
Só policiais na rua são 17.500, sem contar os fuzileiros navais  e policiais rodoviários federais convocados pelo governador do estado.
Agora, nesse momento, enquanto escrevo esse texto, mais um ônibus foi incendiado na Av. Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro.
Um indivíduo, preso pelos policiais após incendiar uma Van, os traficantes estão pagando 250,00 por carro  e 350,00 por ônibus ou caminhão incendiado.
Usuários de crack também estão sendo recrutados pelo tráfico para incendiar veículos, recebendo o seu pagamento em droga.
O medo tomou conta da cidade e dos moradores.
Onde está a política de segurança pública do estado do Rio de Janeiro?
O que o nosso governador tem a dizer sobre os atentados sofridos pelo Rio de Janeiro no dia de hoje?







Os policiais invadiram hoje a comunidade de Vila Cruzeiro, que se tornou o Quartel General do tráfico, obrigando os marginais a fugirem pelo alto do morro em direção ao Complexo do Alemão.
Segundo a Secretaria Municipal de Educação, 150 escolas municipais não funcionaram hoje.
Muitos colégios particulares dispensaram os alunos mais cedo.
O comércio fechou por volta de 4 horas da tarde e está sendo oferecido abrigo a moradores que moram em área de risco e que não conseguiram voltar para casa.
Um bilhete deixado pelos traficantes, afirmava que "eles" tomariam de volta os territórios dominados pelas milícias, isto é, está declarada a guerra em todos os níveis na cidade do Rio de Janeiro.
O que mais me impressiona nisso tudo são as táticas de guerrilha utilizada pelos traficantes. Até uma bomba relógio foi encontrada hoje na cidade e duas granadas foram detonadas em um supermercado que não respeitou o "toque de recolher".




Não sei se na tentativa de intimidação, mas o tráfico revelou que possui 300 metralhadoras .30 e fuzis antimísseis. 




A situação esteve mais complicada no bairro da Penha e do Jacarezinho, mas, por toda cidade o clima é de insegurança.
Como afirmei no texto anterior, o ataque do traficante pode vir de qualquer lugar, até porque precisam desviar a atenção do maior número de policiais para que possam fugir da Vila Cruzeiro.
Eu vou confessar que estou realmente assustada com toda essa situação e que o medo já mudou a rotina da minha família: Amanhã meu filho não irá ao colégio e pedi para minha mãe que não viesse a minha casa no sábado, para que ela não passe na Avenida Brasil.







O governador Sérgio Cabral deu mais uma declaração polêmica, dizendo que tudo que estava acontecendo na cidade não passava de "frescura de traficante".
É frescura de traficante uma menina de 14 anos ser baleada, dentro da sua casa, em frente ao computador que acabara de ganhar?
É frescura de traficante um senhor de 81 anos ser baleado no braço dentro da empresa em que trabalha?
Se isso é apenas frescura de traficante, nem quero imaginar quando eles resolverem agir de maneira mais séria.
Eu gostaria de lembrar ao governador do Rio de Janeiro que "o povo derrota o Czar, derrota até quem põe no lugar."





Visivelmente o Rio de Janeiro está sem governo!
Certamente há mais coisas por trás disso tudo do que está se informando a população da cidade, mas uma coisa há de se falar: a polícia está reagindo exatamente como a população espera. Nunca na história da cidade o índice de aprovação da população foi tão grande em relação às ações da polícia como é hoje. - me desminta se alguém puder me provar o contrário.










Hoje, com certeza, teremos mais uma madrugada violenta e essa guerra não está em vias de acabar, pois os traficantes não parecem que pretendem se entregar, a polícia não parece disposta a parar até que prendam os marginais, mas, pelo menos, uma nova ordem está se formando na cidade.
Se o governo do estado não fizer nenhum "trato" com os traficantes - como fez com a implantação das UPPs, avisando onde e quando seriam implantadas, segundo o governador para evitar justamente esse confronto - teremos uma cidade muito mais tranquila e segura, pelo menos até a vagabundagem se reorganizar.
Eu espero realmente amanhã conseguir pensar em outra coisa, que não a violência da cidade e nas pessoas que amo que estão na rua e que ainda não chegaram em casa.









quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Fique em casa!



Se você não tem necessidade não saia de casa se você mora no Rio de Janeiro.
Após o anúncio de que 8 presos seriam transferidos para o presídio de Catanduvas, no Rio Grande do Sul, uma enorme onda de violência assola a cidade.
Em 17 horas foram 16 automóveis incendiados!
Isso mesmo, quase 1 por hora e, pior, espalhados pelos vários cantos da cidade mostrando o poder do "terrorismo" no Rio de Janeiro.
Já temos um total de 29 veículos incendiados desde o final de semana quando começou a "onda de violência".
O que mais assusta o carioca é que não há um lugar específico para sofrer o ataque terrorista.
Tivemos ataques em Santa Cruz, na Zona Oeste; na Penha e no Jacarezinho, na Zona Norte; no Fonseca, em Niterói; na Washington Luiz, na Baixada Fluminense; em alguma cidades mais afastadas do Rio de Janeiro; enfim, em todos os lugares.
Em entrevista o secretário de segurança do Rio de Janeiro disse que bilhete encontrado afirma que os ataques são em represálias as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras).
A verdade é que quando implantaram essas unidades o tráfico ficou sem lugar para armazenar a droga, já que o comércio continua em menor escala através dos "vapores".
O traficante, se sentindo acuado, mudou-se para outros locais onde o policiamento era reduzido, entretanto, teve o seu lucro reduzido.
Como alguns locais na Zona Oeste da cidade ainda é comandada pela milícia, que repele o traficante, este não teve outra opção ao não ser aterrorizar a população para demonstrar poder e implantar a idéia de que o verdadeiro câncer da cidade é a ocupação intensiva policial.






A verdade é que a população do Rio de Janeiro já não aguenta mais tanta violência e tanta desordem!
Há 12 anos atrás falava-se em áreas de risco. Isto é, áreas em que a incidência de violência era maior. Hoje não existe mais esse limite, já que o terrorismo chegou até cidades mais afastadas do "centro urbano", como Cabo Frio e Búzios.
Não se sabe até que ponto é boato ou tentativa de encobrir a realidade, mas a verdade é que hoje há mais helicópteros no ar procurando áreas de conflitos do que carros na rua.
Até mesmo um casamento era celebrado ao som de tiroteio em um cartório no subúrbio da cidade, o que não é novidade nenhuma, pois há bem pouco tempo, um ladrão resolveu roubar o carro do pai noiva após uma cerimônia.
Não está dando nem para casar com tranqüilidade na cidade!
Acompanhando os noticiários, acabei de ver mais um veículo ser incendiado!
O mais impressionante, nos relatos de motoristas e passageiros de ônibus é que os menos foram parados por menores, aparentando 6 ou 7 anos, que mandaram todos descerem e atearam fogo ao veículo,depois saiam caminhando para uma comunidade vizinha.
Caminhando? Não tinha uma só alma para parar os guris?
Como é que dois guris pequenos fazem uma coisa dessas e saem andando sem que ninguém tenha uma reação?










Na segunda-feira, ouvi o relato de um militar da marinha que teve o seu carro atacado - metralhado, depois incendiado - que agradecia aos policiais de uma viatura que fazia o pratulhamento e voltou na contra mão para socorré-lo. 
Hoje, pela hora do almoço, ouvi um pedido de ajuda aos policiais rodoviários, pois havia o boato que estava chegando ao estado 600 kg de dinamite que seriam usadas em atentados contra monumentos famosos, shoppings e autoridades.
Isso é ou não terrorismo?
As autoridades chamam de "ataques violentos" e tentam tranqüilizar a população dizendo que a situação irá se resolver em breve, pois centenas de pessoas já foram presas e que "eles" não tem contingente e não tem como aumentar o seu arsenal.
Pelo jeito, o secretário não ouviu falar nas crianças que atearam fogo ao ônibus. O traficante pode recrutar qualquer um que esteja disposto a ganhar mais do que seu salário mensal para fazer "um servicinho" extra e as armas chegam de qualquer canto do país, pois se não houver denúncia, não há como parar cada carro, ônibus ou caminhão que chegue ao nosso estado.
Quando o estado só pode aumentar o seu contingente através de concursos e as armas só podem ser compradas através de licitações.
A verdade é que estamos à mercê da situação e, se as autoridades não agirem logo, nosso estado vai ser habitado apenas por aqueles que não tem "amor a vida" ou que não podem se mudar.
Eu já estou na zona rural do Rio de Janeiro e, após ver a quantidade de prédios financiados pela Caixa Econômica Federal - nada contra o programa Minha Casa, Minha Vida - já estou estudando a possibilidade de sair daqui para um lugar onde o programa habitacional do governo não tenha interesse, pois quando maior a população, maior a violência.





segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Vamos falar de bullying?



Bullying é um termo em inglês utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo (bully - «tiranete» ou «valentão») ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz(es) de se defender. Também existem as vítimas/agressoras, ou autores/alvos, que em determinados momentos cometem agressões, porém também são vítimas de bullying pela turma.


Ultimamente os programas de TVs vêm falando constantemente sobre o assunto.
A verdade é que esse tipo de coisa sempre aconteceu, a diferença está na forma como é encarado pela vítima e na violência que é utilizada nos dias de hoje.
Trotes e apelidos maldosos sempre foram utilizados por adolescentes.
Meu marido, ao entrar para o Colégio Pedro II de São Cristóvão, ganhou o simpático apelido de “Capitão Gay”.
Para quem não conhece, era um personagem do programa do Jô Soares, no “Viva o Gordo”. – Veja o vídeo.
Até hoje seus amigos de colégio se lembram dele pelo apelido.
Isso não era um tipo de discriminação?
Se me lembro bem, essas turmas tinham 40, 45 alunos. Agora imaginem todos te chamando de “CG” – diminutivo de “Capitão Gay”.
Temos ai dois tipos de agressão verbal: Ele era chamado de gordo e de gay ao mesmo tempo.
Reações mais violentas também aconteciam, entretanto, era tratado de uma forma diferente.
É certo que o mundo está mais violento, as pessoas estão mais violentas.
Hoje assistindo a um telejornal vi 3 carros serem incendiados, 1 mulher sendo morta por ex-companheiro, vários assaltos e “arrastões”, pessoas que se dizem perseguidas por milicianos e 4 brigas de boates!
A facilidade de mostrar os fatos também é muito maior, pois hoje em dia qualquer criança de 6 anos tem um celular que filma!
Isso, por um lado é muito bom, pois você instrui a criança para filmar tudo que ela achar que está errado.
Meu filho, por exemplo, filmou a professora correndo atrás dele para tomar o seu celular à força, quando ele se negou a entregar, quando ia entrar num ônibus para um passeio escolar.
Entendo que celular tocando dentro de sala incomoda, mas em um passeio?
O celular é sim uma arma contra o bullying!
O principal que todos deixam de falar é que o bullying só existe porque a pessoa se coloca na posição de vítima eterna e “permite” que o agressor se sinta poderoso.
No caso de meu marido, embora ele se sentisse desconfortável com o apelido, resolveu “encarar” o personagem, dando ao seu agressor a sensação de frustração.
Por mais que o agressor tentasse denegrir a sua imagem perante os outros alunos do colégio, ele mostrava que pouco se importava. Era como se dissesse:
- Sou gordo? E daí?
- Sou gay? E se for?
Se reagisse de outra forma, talvez a reação do agressor fosse ainda mais violenta.
Diga que é mentira quem nunca sofreu esse tipo de agressão no colégio.
Eu era gorda e sofria uma série de discriminações por causa disso. Acabei me isolando e desenvolvendo um misto de bulimia com anorexia.
O mundo perfeito não existe, pessoas perfeitas não existem. Todos nós temos defeitos.
A grande diferença no bullying praticado hoje e no bullying praticado há 10, 20 anos atrás, está na importância que se dá ao fato.
Quem nunca sofreu discriminação por ser diferente?
Diferente sim, somos todos diferentes. Se eu procurar um defeito em qualquer pessoa eu vou achar. E se eu resolver usar isso para denegrir essa pessoa e sentir que ela se “incomodou” com isso, vai me causar uma sensação de poder.






Já se perguntaram por que os paparazzis incomodam tanto?
Porque tentam mostrar as celebridades em situações constrangedoras que, para mim, é um tipo de bullying alimentado pela indústria da curiosidade humana. Mas isso é assunto para outro texto.
Agora, meu caro leitor, gostaria que respondessem, mesmo que mentalmente, algumas perguntas:

1 – Você já teve algum apelido no colégio que não gostava?
2 – Qual?
3 – Alguma vez se sentiu ameaçado ou teve medo de algum colega de turma?
4 – Já fez algum trabalho de escola em que sentiu necessidade de colocar o nome de alguém apenas para se sentir enturmado ou por medo?
5 – Já sofreu alguma agressão física no colégio?
6 – Já se sentiu usado por alguém que ouviu seus sentimentos e depois contou para todos de modo pejorativo?
7 – Já se sentiu excluído apenas por ser considerado diferente?
8 – Já se sentiu julgado por sua cor ou condição social?
9 – Já teve a impressão de que quando você passa as pessoas falam de você?
10 – Já esteve em algum local que, quando você chega, as pessoas se afastam?

Se você respondeu sim para 4 ou mais perguntas, você já sofreu bullying.
Não fique triste, pois eu respondo sim para as 10 perguntas, aliás, as perguntas são baseadas na minha experiência de vida, que sou atéia num condomínio fechado onde todos são evangélicos – ou fingem ser.