Depois do zilhionésimo ônibus passar na frete da nossa porta e perdemos mais um diálogo importante do capítulo final da novela – que já nem me lembro mais qual era – eu e meu marido resolvemos abrir aquela garrafa de uísque enviada pelo patrão dele para afogar as mágoas.
Alguns poderiam afirmar: o último capítulo tem reprise, mas não dava para fazer uma barricada e impedir o tráfego dos ônibus e afins, a única solução era beber.
Fomos para o escritório, ligamos o som no seu último volume em suas 4 caixas de som e começamos a ouvir Elis Regina.
Idéia mais que infeliz, pois nessa hora meu marido resolveu mudar para a zona rural.
A gente sabia que não tinha dinheiro para comprar um sítio, nem uma casa, mas dava para comprar um terreno.
Comprar um terreno e erguer a fundação da casa, isso dava para fazer. Subir tijolo era rápido, barato e, se a música falava em “pau a pique, sapê”, estávamos bem melhor, pois seria de tijolos.
O grande e maior problema de tudo é que pagávamos aluguel e o dinheiro para a obra estava começando a rarear.
Solução encontrada: Mudar para a casa com ela estava!
Alguém se lembra da música “A casa” de Toquinho e Vinícius?
Era a própria!
Chegamos com a mudança em um domingo e a primeira coisa que aconteceu depois de colocarmos tudo dentro dela foi chover.
O fato poderia passar despercebido se as janelas tivessem vidros, mas as janelas não tinham vidros. E era chuva de vento.
Logo a casa tinha um enorme rio passando por dentro dela molhando todas as caixas de papel onde estavam “nossos tesouros”.
Como era verão, no dia seguinte o sol amanheceu mais que brilhante!
Detalhe: As janelas não tinham venezianas e, assim que o sol nasceu eu acordei.
Era hora de começar a abrir as caixas e ambientar uma criança de 2 anos.
Portas trancadas, coisa natural em pessoas urbanas, meu filho saiu na janela e admirado me chamou:
- Mãe! Tem um cavalinho no jardim!
Natural ter um cavalinho no jardim, a gente não tinha nem vidros, quanto mais muros.
- É, meu filho!
- É, mãe, o cavalinho olhou para mim e fez múúúú!
Era uma vaca.
Comecei a repetir para mim: “Eu fiz a opção certa”. Acho que isso virou uma espécie de mantra porque continuo a repetir isso 13 anos depois.
O nosso terreno estava muito bem localizado em um condomínio fechado com clube privativo, mas isso tudo não aconteceu até hoje, apesar de eu todos os dia perguntar quando as obras vão terminar e ouvir a mesma resposta há 13 anos: Daqui a 3 meses.
Detalhe: quando mudei, isso aqui parecia uma selva, pois não tinha água, luz ou esgoto!
Tudo era “no gato”. Ninguém estava nem ai para a gente. A gente era apenas um bando de morto de fome fugindo da grande metrópole.
As pessoas foram se cansando, descasando, mudando, mas nós continuamos aqui, firmes e fortes e repetindo o nosso mantra:
“Eu fiz a opção certa, eu fiz a opção certa, eu...”
2 comentários:
Kátia, sorry meu humor negro, mas não consegui segurar meu riso(rs). Justamente no dia da mudança, pinta chuva... a vaca no seu quintal, confundida pelo seu filho com um cavalinho... rs
Isso se deve ao fato do meu mal humor ser patológico!
Quando uma pessoa é mau humorada tudo acontece com ela!
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