Tem dias em que a gente acorda e dá tudo errado.
Aquele era um dia daqueles! Estava mesmo difícil até para respirar!
Acordei atrasada para aula, trocaram a aula de informática que o professor chegava sempre atrasado pela aula de matemática, o ônibus não passava, enfim, parecia um inferno.
Quando a aula terminou meu marido me esperava na porta do cursinho com a cara mais desesperada que eu já tinha visto na vida!
Nessa hora eu pensei que meu filho tinha sofrido algum tipo de acidente, não sei, mas sabia que o meu dia não ia terminar bem.
Sumiu dinheiro de nossa conta bancária e eu teria que ir ao centro do Rio com ele, já que por telefone não conseguimos resolver.
Pegamos o trem lotado, fomos 1h15min em pé, caminhamos sob sol forte.
Chegando ao banco, não conseguia fazer o idiota do gerente entender que estornou um cheque da nossa conta duas vezes, foi uma verdadeira loucura.
Quando finalmente conseguimos resolver o assunto do cheque já estava quase na hora do banco fechar.
Resolvemos pegar o ônibus no ponto final, pois depois de um dia como aquele ninguém merecia voltar em pé para casa.
Lógico que o ônibus foi enchendo pelo longo do caminho e as pessoas começavam a se acotovelar, afinal seria mais 1h de viagem!
Quando o ônibus pegou a seletiva e não tinha mais para onde o motorista desviar, um rapaz aparentando uns dezenove anos começou a fazer movimentos suspeitos bem na frente e ao meu lado.
Como eu já tinha passado por uma situação desagradável nesse mesmo coletivo, fiquei atenta a todos os movimentos do suposto marginal.
Para piorar a situação, noto que o rapaz começa a gesticular para outros dois que estava mais atrás.
Naquela hora já imaginei onde ia jogar minha bolsa, olhei para o meu relógio e me despedi dele, pensei nos cartões de banco e na dificuldade de tirar a minha 5ª via da carteira de identidade.
Acreditem, já perdi 4 carteiras de identidade!!
O rapaz continuava com aquela cara de “gato que ia comer o canário ou pescar o peixinho no aquário” e eu me desesperava a cada instante.
Não sabia se contava para o meu marido que tagarelava ao meu lado sem perceber nadica de nada do que estava acontecendo ou se prestava mais atenção no sujeito.
Já na altura da entrada de Campo Grande o rapaz grita:
- Todo mundo com a mão na cabeça!
Mão na cabeça? Todos ficaram perplexos, isso é coisa de policial!
Seria algum policial disfarçado? Seria aquele jovem mais velho do que aparentava? Havia algum suspeito no ônibus?
Como ninguém obedeceu, além de uma senhora que pedia em nome de Jesus para que ele tivesse piedade porque ela tinha um marido deficiente que dependia dela, ele tornou a ordenar:
- Todo mundo com a mão na cabeça!
O motorista se desesperou, os passageiros começaram a colocar as mãos nas cabeças e esperar a próxima ordem e eu, como estava ao lado dele, esperei que ele nem notasse minha presença.
Meu marido me deu uma ou duas cutucadas querendo entender o que acontecia e eu nem me movia.
Veio a segunda ordem:
- Que vai começar! ...
Um enorme silêncio em um ônibus lotado...
Segundos pareceram horas...
E o infeliz me diz isso:
- O Rebolation, o retolation, o rebolation, on, on ...
Falou isso com a cara mais feliz desse mundo!
Eu agarrei nas pernas do cara e joguei o infeliz no chão, o motorista freou, pois já havia entrado em Campo Grande, as pessoas começaram a bater no rapaz desesperadamente e, num gesto de misericórdia, o motorista colocou-o para fora pela camisa!
O que passa pela cabeça de um cara desses?
Quer morrer?
Pegar um ônibus como aquele que não passa, acontece. Com pessoas cansadas que estão indo para longe?
Pessoas são pessoas...
Meu marido riu da situação toda e eu me senti vingada por ter sido a primeira a dar “uma lição” no “molequinho”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário