Da educação? Ela se mudou junto com o “Dá licença”, o “por favor” e o “muito obrigado”. Não deixou endereço , Mas às vezes a gente esbarra com eles nos lugares mais inesperados como vou mostrar adiante.
Diz minha sogra , que eu tenho uma excelente educação . Bem eu não acho. Mas a verdade é que minha avó paterna não admitia palavrões. Me lembro de um dia na casa de vovó , quando eu tinha uns cinco anos . Meu pai estava consertando o galinheiro dela. De repente errou o martelo e acertou o dedo. Claro que soltou um sonoro “MERDA!”. Minha avó calmamente levantou-se , se aproximou , e deu-lhe um tapa na boca . A cena impressionou-me . Como podia aquela velhinha bater em meu “Super-herói”? Na verdade , meu pai também não falava palavrões, pelo menos até eu me tornar adolescente. Admito que eu é que “avacalhei” o “velho”!
Mas, se tenho mesmo boa educação , não soube transmitir isso ao meu filho . Ontem ele disse:
“Vou consertar o computador aquela mulher da outra rua!” . Eu corrigi: “Você quer dizer que vai consertar o computador DAQUELA MOÇA que mora na outra rua não é” . Ver meu filho comendo, dá uma idéia de onde Spielberg tirou a idéia de filmar “TUBARÃO”. Quando não arrota pra casa inteira ouvir.
Já na família de minha esposa , cito meu cunhado. Sempre estudou em colégios pagos. Teve até um minicarro á gasolina quando em criança . Pois bem: já espancou algumas ex-namoradas ao melhor estilo Bruno . Da última vez que esteve aqui em casa ficou aos berros :”ÔÔÔÔÔÔ , O VASCÃO VOLTOU!” (Para a 1ª divisão) . Gritar em casa alheia já e de péssima educação . Falar de Vasco em casa de flamenguista então, é como falar de corda em casa de enforcado!
Entretanto... sexta-feira por absoluta falta de opção fui almoçar em um restaurante do governo estadual . Nesses lugares o melhor é não tirar os olhos do próprio prato sob pena de ver alguma coisa de tirar o apetite. Outro dia um cara misturou a sopa com o resto da comida fazendo uma repulsiva mixórdia.
Estava na mesa quando se aproximou uma senhora quase obesa com duas meninas, provavelmente suas filhas . As roupas eram de lojas populares e estavam bem gastas . Pareciam pessoas de alguma comunidade carente . Pensei comigo “Lá vem encrenca!” . (Olha aí a discriminação que e gente diz que não tem!) . A mãe virou para a mais velha , que devia ter uns oito anos e apontou pra mesa onde eu estava:
_ Sulamita , vai naquela mesa e pega o azeite!
A menina aproximou-se e pra meu espanto disse-me:
_ Moço , dá licença?
“Claro” respondi eu . Ela levou o azeite (Ou aquilo que chamam de azeite) . Serviram –se , e em seguida ela levantou-se de novo , veio à minha mesa devolver-me a bisnaga: “Obrigada viu?”.
Passei a observar a menina . Ela abriu o saco de talheres, pegou a colher para comer . Imediatamente sua mãe repreendeu-a:
_Sula , não estamos em casa. Colher é só pra comer sopinha. Usa o garfo e a faca!
Sulamita obedeceu . Não posso dizer que tenha tido a destreza de uma condessa. Mas fez melhor que muito marmanjo que eu vejo por aí . E , pra me deixar ainda mais perplexo, o prato principal era frango . Pois não é que ela destrinchou-o usando os talheres? Ficou mais carne grudada no osso do que ela comeu. Mas em momento algum ela usou as mãos .
Fica demonstrada a tese que dinheiro e educação nem sempre são grandezas diretamente proporcionais . Ou ainda que não é um bom gramado que impede o surgimento de uma erva daninha . Em contrapartida no meio das pedras podem sim, brotar orquídeas .
E, mesmo sabendo que ela nunca vai ler esse texto, faço questão de dar os parabéns para a mamãe da Sulamita. Que apesar de sua visível humildade soube dar à sua filha uma notável educação!
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