sexta-feira, 15 de junho de 2007

Venha para a vida selvagem: Tenha filhos

Essa noite meu filho deixou o celular dele carregando na tomada ao lado da minha cama e o maldito, com problema na bateria, acendia e apagava fazendo um nada simpático barulhinho e pensei como era complicado ter filhos. Não havia outra tomada na casa que pudesse carregar aquele maldito aparelho?
Por que os filhos pensam que pai e mãe não precisam dormir? Será que quando viramos pais devemos ser de borracha? Será que os filhos gostam de torturar seus pais?
Eu sempre quis ter filhos, mas não tinha a menor idéia no que estava me metendo.
Sempre fui muito desajeitada com crianças. Minha mãe já sabia disso, desde o momento em que me viu carregando as bonecas de ponta cabeça.
Imaginem uma pessoa que carrega os seus bebês pelos pés, quando criança, tendo um bebê!
Sem contar que eu não tinha nenhuma característica, nada que fosse maternal em mim.
Quando se fala em filhos, presupõem-se uma gravidez. Tudo bem, mulheres ficam grávidas todos os dias.
Tudo bem uma ova! Mulheres não contam a parte ruim da gravidez para que você também caia nessa e passe por tudo que ela já passou e teve que ficar calada porque gravidez é uma bênção!
Se pensarmos direitinho, gerar uma criança, com todos os detalhes, dedinhos, unhas, olhinhos, é realmente uma bênção, mas ninguém fala de como é ter essa criança dentro de si.
Primeiro a gente começa a vomitar o tempo todo, vai ao médico e ele pede um exame. Você faz o tal exame achando que está com gastrite e o médico louco e dá positivo. O susto é tão grande que olha dezenas de vezes e não acredita.
Depois faz um ultra-som e descobre que uma coisinha menor do que um filtro de cigarro te faz vomitar tudo que come!!!
Passada a fase dos vômitos, vem a fome. Não tem nada que acabe com a fome, nada te satisfaz. E você come, come, come. Engorda à bessa e não se reconhece mais!
Começa uma nova fase: A crise de “puta insegurança”. Acha que não é bonita, que está gorda pra caralho e não quer mais sair nem para ir ao médico!
Enfim, gorda você já está, então não há mais o que fazer e as coisas já não estão muito ruim, tirando o sono, dá para levar. É ai que seu rebento começa a se mexer.
Da primeira vez até que é engraçadinho, mas depois começa a se mexer mais e mais e mais...
Se mexe de dia, quando você quer dormir, quando quer falar, cantar, nada dá para fazer. A gente tenta se conformar achando que vai dar à luz a um grande jogador de futebol, que chuta pra caralho!!!
E você gorda tenta se conformar e até rir da situação, mas não dá para se conformar com nada disso e você se pergunta por que ninguém te falou dessas mazelas antes de você pensar em ter um filho!!! Logicamente para ver a babaca se fudendo, só pode.
Daí por diante, não tem muita novidade, senão o peso na barriga que aumenta a cada dia, mas isso vai tirando de letra.
Finalmente a criança nasce!! Você engordou 20 quilos e o bebê nasce com pouco mais de dois quilos. Com quem ficam os demais 18 quilos? Com você!!
Você passa pelo parto, que não é uma das coisas mais agradáveis, leva a criança para casa e, e...? Não sabe o que fazer com ela!!
As crianças deveriam vir com manuais de instrução. Como aqueles aparelhos eletrônicos que vêm com um manual cheio de páginas de instruções para a gente saber o que fazer com aquele chorinho de madrugada!!
Não tinha mesmo nenhuma condição de ser mãe, cheguei a essa conclusão! Fui de malas e cuia para a casa da minha mãe para ver se aprendia alguma coisa.
Foi a coisa mais impressionante que eu já vi na minha vida!! O neném chorava e ela falava: “É manha”. Ia lá, carregava no colo e ele parava.
Mais um pouco, um novo choro e ela dizia: “Está com fome”.
Mais um chorinho e ela novamente: “É cólica”. Dava um chazinho e tudo resolvido!!
Não dava para acreditar! Tinha algo errado comigo, com certeza!!
Aos tranco e barrancos estabeleci algum contato com meu filho. Ficava desesperada, algumas vezes, pois não sabia bem o que fazer, mas tudo acabava bem quando ele me olhava com aquela carinha de apaixonado!
Comecei a inventar musiquinhas para ele, pois era uma maneira dele parar de chorar e prestar a atenção em mim.
A maior vítima dessa minha falta de habilidade em ser mãe era sem dúvida o pai da criança. Ele era filho temporão, nunca teve contato com criança, não entedia nada de coisa nenhuma. No fim, acabou protagonizando histórias hilárias!




Certa noite, estávamos dormindo e o Fillipe (é esse o nome da fera) acordou chorando. Eu dei um apagão geral, daqueles que nem rojão no ouvido acorda. Desesperado e sem saber o que fazer, meu marido resolveu contar berros de neném, como se fosse carneirinhos, para dormir. Foram 1.188 berros até ele desistir e dormir.




Aos 2 anos, minha ferinha estava brincando no escritório do pai quando achou um alicate desses de pressão. Não tenho idéia no que se passou pela cabeça do meu bebê, só sei que ele viu o pai sentado num banco desses altos, de mesa de desenho e resolveu fechar o alicate na bunda dele!
Já imaginaram a cena? Um homem de 1,87 de altura com um alicate de pressão preso na bunda gritando e correndo atrás de uma criança aos berros!!
Lógico que ele percebeu que tinha feito algo errado, mas não sabia o que.


Ainda aos 2 anos, num domingo de dia das mães, nós fomos acordados com o aparelho de CD nas alturas!! Lógico que imediatamente olhei para o berço e ele não estava lá.
Corremos ao escritório e encontramos ele dançando numa pilha de CDs jogados no chão e batendo palminha.


Por outra, derrubou um garrafão de vinho vazio e eu fui tirar da frente dele, para que ele não se cortasse e...? Ganhei 6 pontos na perna!!


Falando em pontos, nós tínhamos uma mesa de jantar linda, em vidro fume e o meu bebê resolveu debruçar sobre ela, partindo ao meio. Se eu não tenho reflexo de gato ele tinha se cortado em dois. Será que o mundo agüentaria dois?


Resolvemos construir uma casa e nos mudarmos para longe da violência. Assim que nos mudamos o cano da cozinha apareceu com um vazamento. No dia seguinte, meu marido resolveu colocar uma escada de ferro do lado de fora da casa e consertar.
Eu estava desempacotando as coisas quando ouvi: “Dexe papai, dexe papai”.
Logo em seguida veio aquele barulho de coisa caindo e o Fillipe entrando pela casa desesperado, sacudindo as mãozinhas e falando: “Papai dexeu, papai dexeu”.
Quando cheguei no quintal, encontrei o meu marido meio atordoado e com um buraco na testa (causado pelo pé da escada). Ainda meio tonto, ele me contou o que não tinha visto: Cada vez que o Lipe falava “dexe papai” empurrava a escada e ele tentava se equilibrar e foi assim uma, duas, três, até a hora em que não deu mais e ele despencou!!


Até hoje eu não sei se ter filhos é bom ou é como viver eternamente em um safári, pois muitas vezes saio para ver onde ele está e só ouço a sua voz me chamando. Olho para todos os lados e não encontro, então eu resolvo olhar para cima e lá está ele no galho mais alto do pé de jamelão!
Sabem o que mais me deixa indignada?
É que jamelão é uma frutinha tão vagabunda que a gente nem encontra para vender no mercado!! Já pensou cair de uma árvore tão insignificante que seus frutos não servem nem para vender?


Com certeza não fui e nem sou uma boa mãe. Talvez nunca saiba o significado dessa palavra, mas acho que meu filho é feliz, apesar de não poder muito contar comigo.

Um comentário:

Tica disse...

oi boneca, acabei de ler sua postagem sobre ter filhos,e confesso que esse é um dos meus sonhos, um dia poder ter filhos...sei que é uma tarefa difícil assim como vc descreveu,mas acho que é ainda a melhor coisa que pode acontecer na vida de uma mulher,a dádiva!!!mas como tal deve ser mesmo bem estranho gerar uma vida dentro de vc,mas gostei da sua maneira de escrever e falar sobre isso..parabéns vc sabe que sou sua fã né?beijinhos..tica...