sábado, 30 de junho de 2007

Sem rumo

Hoje é sábado, mas não é um dia especial para mim, pelo contrário, é sim um dia muito ruim, pois descobri que eu estou cada dia mais propensa a me fechar em mim mesma, com um caracol que se nega a sair da casca até para se alimentar.
Eu não estou como disse no título sem rumo, só não reconheço mais o rumo que as coisas tomaram.
Eu a cada dia entendo menos as pessoas e olho para elas enquanto falam e tudo que reconheço é blá, blá, blá, blá...
Abro minha boca, falo e as pessoas ouvem blá, blá, blá, blá...
Cada dia falo menos, pois não consigo me fazer entender e também, por mais que me esforce, não entendo ninguém. Aliás. Talvez eu entenda, mas não queira acreditar.
Cada vez que decepciono com as pessoas, mais acabo me destruindo, pois não consigo ver graça na vida da maneira em que está e, pior, no que as pessoas estão se tornando.
De primeiro eu me isolava do mundo ouvindo som alto, hoje o meu isolamento se resume ao fone de ouvido do meu computador, pois a cada dia o meu espaço está mais reduzido, não consigo achar um lugar só meu. Se quiser ficar só tenho que sair de minha casa e, quando isso acontece, me sinto mais abandonada ainda porque fico longe de tudo que é meu!
Acho que fui criada com muitos mimos e, por isso não aprendi a dividir. Nunca tive que dividir, talvez tenha sido esta a origem de todo o meu problema.
Quando algo me aborrecia eu entrava no MEU quarto, ligava o MEU som no último volume com a porta fechada e o mundo lá fora acabava até EU estar de novo preparada para enfrentá-lo. Ninguém interferia, a não ser se meu irmão fizesse a mesma coisa no quarto dele, pois todos enlouqueciam na casa. Até hoje meus irmãos continuam com esse mesmo hábito e eu os invejo por isso, pois esse foi mais um direito que me foi negado ao longo dos anos.
Eu sempre tive essa tendência a me tornar um caracol, aliás, é esse o meu signo ascendente.
Algumas vezes temos que fechar os olhos para conseguir olhar em volta. A hora é quando o nosso coração se encontra em eclipse total, quando não conseguimos entender a realidade a nossa volta. Em outras é preciso se fechar para conseguir se abrir para a nova realidade.
Eu me sinto muito só nesse mundo em que criei, mas não tenho com quem reparti-lo, pois meus mecanismos de escape foram se diluindo com o tempo e sobraram apenas as obrigações, como se os direitos viessem tão taxados que foram abandonados com o tempo.
A pior coisa que me aconteceu com o passar dos anos foi perder a capacidade de sonhar, como se fosse algo tão obsceno que deveria ser abandonado por mim. Sinto falta dos meus sonhos e de planejar sobre eles. Talvez tenha me decepcionado de uma maneira tão absurda com a minha vida que não tenha mais me permitido sonhar ou tentar me sentir feliz.
Não acredito em felicidade, amizade, boas ações, vida melhor ou em qualquer coisa boa que possa vir do ser humano.
Não sou uma infeliz profissional, como muitos possam achar, porém estou me tornando uma pessoa cada vez mais sem sentimentos. Talvez em muito pouco tempo não consigam mais me ferir, pois não vou sentir mais nada, nem raiva, nem ódio, nada.
Os sentimentos bons foram sumindo na proporção em que me decepcionava com as pessoas e os ruins sumiram quando percebi que nunca me levaram a lugar nenhum.
Nada consegue me fazer feliz. NADA.
Queria, no entanto, atingir a perfeição: Gostaria que nada, nem ninguém conseguisse me afetar, NADA, mas infelizmente isso ainda acontece.
Foi isso que me motivou a escrever hoje. Foi o sentimento de impotência em relação a vida e ao mundo.
Algumas vezes gostaria que a minha alma tivesse sido congelada em algum ponto em tenha realmente sido feliz. Assim como esses momentos ficaram congelados em minha mente e cada vez que ligo o som e ouço músicas antigas, fecho meus olhos e vejo esses momentos, como se eu nunca tivesse saído lá, como se tudo que estivesse me acontecendo nesse momento não importasse mais.


O que levou os dinossauros à extinção?
Alguém sabe a resposta?
Eu sei: Eles eram muito grandes e, por isso, pouco adaptados à vida na Terra.




O ser humano também vai chegar a se extinguir. E vocês sabem por quê?
O ser humano pensa e, embora isso tenha feito com que ele tenha superado todas as limitações até os dias de hoje, o levará a total destruição.
O homem se tornou mesquinho e inútil ao seu próximo!


Numa visão muito romântica da coisa, ou como acreditávamos na década de 80, se o mundo acabasse hoje, sobrando apenas um casal e eu fosse a parte feminina de todo esse processo, o mundo iria acabar, pois não gostaria de ser responsável em trazer de volta uma civilização tão medíocre.
Por outra, se o mundo estivesse realmente vazio, por que me uniria a alguém. Ficaria sozinha de fato e de direito.
Vagaria pelo mundo nos escombros produzidos por toda ignorância e intolerância produzida ao longo dos séculos!


Acho que é assim que me sinto hoje: Como se o mundo tivesse acabado e eu estivesse vagando por entre o vazio da minha mente, recolhendo entre um escombro e outro alguma recordação que faça sentir bem ou que me leve de volta a um lugar de onde eu nunca deveria ter saído. De mim mesma.
Como se eu não morasse mais em mim, pois eu me olho e não me reconheço mais.
Não sei o que aconteceu comigo, só sei que me perdi entre os labirintos da vida e hoje eu não consigo mais me encontrar.


Eu não me sinto bem me isolando das pessoas, não é uma coisa natural, porém me sinto ainda pior quando tenho que conviver com elas.




Perdendo os Dentes
Pato Fu
Composição: John/Fernanda Takai




Pouco adiantou
Acender cigarro
Falar palavrão
Perder a razão
Eu quis ser eu mesmo
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém
Acho que eu fico mesmo
diferente
Quando eu falo tudo o que penso realmente
Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou
Eu uso as palavras de um perdedor
As brigas que ganhei
Nem um troféu
Como lembrança
Pra casa eu ganhei
As brigas que perdi
Estas sim
Eu nunca esqueci
Eu nunca esqueci
Pouco adiantou
Acender cigarro
Falar palavrão
Perder a razão
Eu quis ser eu mesmo
Eu quis ser alguém
Mas sou como os outros
Que não são ninguém
Acho que eu fico mesmo
Muito diferente
Quando eu falo tudo o que penso realmente
Mostro a todo mundo que eu não sei quem sou
Eu uso as palavras de um perdedor
As brigas que ganhei
Nem um troféu
Como lembrança
Pra casa eu levei
As brigas que perdi
Estas sim
Eu nunca esqueciEu nunca esqueci
As brigas que ganhei
Nem um troféu
Como lembrança
Pra casa eu levei
As brigas que perdi
Estas simEu nunca esqueci
Eu nunca esqueci

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