quinta-feira, 21 de junho de 2007

Falta de inspiração

Ando meio frustrada sem inspiração ou vontade de fazer qualquer coisa. Não que esteja em depressão, não é isso, apenas estou com uma idéia fixa na cabeça e isso me impede de pensar ou querer qualquer outra coisa, por menor que seja.
Tenho sido até meio antipática com aqueles que me procuram para conversar. Não quero conversar, apenas quero estudar.
Eu sou uma pessoa que não tem meio termo e vivo sempre entre um extremo ou outro. Confesso que talvez essa não seja a melhor maneira de viver, mas é a única que conheço. Passei um tempo vivendo na mais pura preguiça, deixando o tempo passar e me divertindo com pequenos vícios, mas isso passou e estou agora no exato extremo, cheia de responsabilidades e preocupações. E, como não sei viver no meio termo, não ando me divertindo muito.
A verdade que estudar é apenas uma desculpa para eu me manter ainda mais longe de tudo e de todos.
Eu nunca tive um envolvimento muito emocional com as pessoas, nunca me apeguei a ninguém e sempre me achei um peixe fora d’água. Desde que cheguei a uma certa idade, nunca mais consegui me relacionar com as pessoas sem certa dificuldade, talvez por causa dessa coisa de gostar de ficar estudando o tempo todo tenha me isolado um pouco dos seres humanos normais!
Não sou do tipo paciente que ouve besteiras, absurdos e fica calada. Também não gosto muito de ficar corrigindo as pessoas, pois fica parecendo meio esnobe. Então me afasto.
A época em que fui mais sociável foi no pré e durante a faculdade, pois todos falavam a mesma língua. Logo depois de me formar me casei e comecei a ter que conviver com pessoas diferenciadas e foi aí que os problemas começaram a se tornar mais evidentes.
Assim que me casei, me mudei para a cidade de Petrópolis e, como eu detesto frio, passava meus dias trancada em casa com um aquecedor ligado e embrulhada em um cobertor. Também era muito difícil fazer amigos em um lugar onde só tinha pessoas idosas que saiam apenas para ir para a igreja e não tinham muito que falar.
Depois voltei a morar no Rio de Janeiro, mas o lugar era um tanto violento e os vizinhos quase não se viam, mas estávamos mais perto da minha família e não me sentia assim tão sozinha.
Minha família é um caso à parte na minha história: a gente briga, fala um monte de coisas para se ofender, se machucar, mas está sempre junto! A gente gosta de brigar, não sei, está no sangue.
Depois, compramos um terreno e compramos uma casa longe da violência e da marginalidade, mas tem sido muito difícil me adaptar. As pessoas da minha idade só sabem falar de filhos e de igreja!
As pessoas não lêem, não estudam, não têm interesse em coisas como política e futuro do país. Também não têm ambição, acham que as suas vidas se resumem a apenas o que restar de tempo entre marido e filho.
Eu cansei de fingir que estou satisfeita com a vida que levo e não fazer nada para mudar. Também não quero me tornar um robozinho que vive em função de marido e filhos, não me sinto muito a vontade fazendo isso. Eu juro que até tentei, mas não consegui, não tenho vocação para ficar em casa arrumando armários e fazendo comida.
Fiquei acomodada fazendo as coisas como davam para serem feitas, achando que estava feliz, mas não estava. Foi quando meu irmão me desafiou a fazer o concurso para o BB.
Coisa inconcebível há anos atrás, quando eu me julgava a elite intelectual desse país e queria me manter longe de tudo, principalmente dos problemas das pessoas normais.


Talvez tenha fugido do mundo adulto durante muito tempo e de uma hora para a outra tenha percebido que não dá para fingir que nada disso existe! Não dá para pintar o mundo de cor de rosa e ficar achando que é a nova Alice no país das maravilhas!
Pode-se se chegar ao fundo do poço dessa maneira e eu estive dentro de um poço muito fundo, me achando a pior das criaturas sem fazer nada para mudar a minha situação.
A possibilidade de fazer um concurso para um emprego normal, para ter uma vida normal me deu um novo fôlego para tentar mudar minha situação, para fazer algo por mim, uma vez que ninguém mais o fará, e com razão! A vida é minha, só eu tenho o direito de escolher o caminho a seguir. Deixei por muito tempo que as pessoas fizessem isso por mim e não tive o direito de reclamar depois. Aliás, nunca tive muito direito de escolhas enquanto as pessoas conduziam a minha vida, mas era cômodo me lamentar enquanto as coisas aconteciam e não ter que viver no mundo real. Agora estou decidido a lutar por um espaço no mundo adulto, que pode não ser muito bonito, nem muito florido, mas é a realidade, sem máscaras e, se tiver que reclamar, vai ser dos problemas que eu mesma arrumei, sem mais desculpas, sem ter mais que esperar, sem ter que pedir um espaço.
Claro que não me contentaria em fazer concurso apenas para o BB, tinha fazer mais uma porção deles, indiscriminadamente, senão não era eu, não a Kátia. Ela tem que tentar abraçar o mundo com as pernas!!
Mas estou me sentindo mais gente, mais eu.
PERAI! Isso é uma grande mentira! Eu estou cheia de dúvidas, com muito medo, mas acho que um dia tinha que sair da adolescência e partir para o mundo adulto. Decidi que esse momento tem que ser hoje, agora e que não quero esperar.
Parece incrível, mas é assim que eu estou me sentindo. Como uma pessoa que passou a vida toda em crises de adolescente.
Talvez o mundo que eu tenha sonhado não exista, mas e daí? Vou ficar velhinha dizendo que meus planos não deram certo e que eu sou uma infeliz?
Será que vale a pena me isolar do mundo e me considerar uma pessoa não adaptada para viver em sociedade?
Não sei, mas estou tentando um novo caminho, talvez tão errado quanto o primeiro, mas um caminho que dessa vez escolhi sozinha.



Um comentário:

Roderick Verden disse...

"Será q vale á pena me isolar do mundo e me considerar uma pessoa não adaptada para viver em sociedade?".

Sou assim, Katia. Há muitos e muitos anos, tenho ciência q não me adapto a viver em sociedade. Impressionante como consegui chegar aos quase 55 anos.

Falta de inspiração é comigo mesmo. Aliás, só ando inspirado, pra me queixar no meu blog.rs

Tendo uma meta, uma ambição, vale lutar por ela.