Quando Felipe França aqui desembarcou com 3 medalhas, uma de ouro e duas de bronze, vindo do último campeonato mundial de piscinas curtas, o que se comentava era seu peso. Com 100 KG e 14% de percentual de gordura ele era mais do que um grande atleta: era a prova de que condicionamento e forma física não são necessariamente a mesma coisa.
Tenho os mesmos 14% de percentual de gordura. Ao longo dos anos fui aumentando de peso sem aumentar o percentual. A barriga cresce e é lá que guardo a perigosa gordura visceral. Estou sempre lidando com esta questão médica, e chata, mas tenho me mantido em forma e aumentado o peso magro, ou seja, adquirido músculos com muito exercício. Portanto, posso dizer que estou bem condicionado. Dito isto, vamos ao real incômodo da minha condição. Chega de me justificar. Detesto fazer isto.
Ao longo dos anos ouvi, e ainda ouço, inúmeros “nãos” profissionais com a justificativa de que minha aparência não é boa, preciso perder peso, pareço decadente etc. Passei 18 anos sem gravar um CD com minhas composições, e percebi que ninguém se interessava em sequer ouvir as novas canções. Embora eu já tivesse emplacado várias no nosso cancioneiro, parecia que estava claro para todo mundo que a minha barriga tinha substituído o meu talento. Curiosamente o público nunca acreditou nisso e continuou a me tratar com carinho. Durante este tempo todo! Coleciono mais sucessos que fracassos em tudo o que fiz no teatro, shows, TV, rádio ou em textos publicados na imprensa ou divulgados na internet. Considero ter conseguido vencer a resistência, mas não posso negar que ela exista e é muito forte. “Nadando contra a corrente, só pra exercitar”...
Voltando ao início: se um atleta pode ser medalha de ouro estando “acima do peso” seria correto dizer que existe um “peso” ideal? Nas olimpíadas os atletas têm os mais variados tipos físicos e, sim, alguns são “gordos”. Mas vamos olhar por outro ângulo.
Quando a adolescente lourinha matou os pais a pauladas em São Paulo, o comentário mais ouvido era “Como foi que uma moça tão bonita fez uma coisa dessas?” Como se gente bonita não matasse ninguém. Claro, os comerciais de TV só mostram rostos perfeitos, e todo mundo entende que são pessoas perfeitas. Será? Quando vi pela TV os bandidos fugindo da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão não me lembro de ter visto um bando de gordinhos. Eram até bem atléticos e “magros”.
O título deste artigo se refere a um movimento americano, “Fat is the new black”. Repare que a tradução não é “o novo negro” mas sim “o novo preto”. É uma expressão do mundo da moda: o novo preto é aquilo que parece ser a óbvia boa escolha; o que não tem erro: o pretinho básico. Ainda que seja óbvia a sugestão de que gordos são, para muitos, “the nigger of the world”, o que o tal manifesto combate ferozmente.
A maior parte da população do mundo está acima do “peso”, se é que existe um “peso”, e todos vamos ter que nos adaptar a esta realidade. Todos são ou vão ser gordos, ou gostar de um gordo, ou admirar um gordo, ou ter prazer com um, seja em que nível for. Conviva com esta idéia, amigo ou amiga. Não são os bonitos os que vão lhe dar prazer, mas aqueles que querem lhe dar prazer e vão se esforçar para que você se dê conta disto. E, acredite, portadores de deficiências, magrinhos, carecas, altos, baixos, estão todos no páreo. O desejo transcende a forma. Beleza é uma coisa, gostosura é outra.
Neste manifesto (fat is the new black) americano há uma série de perguntas do tipo: você diria a alguém “Olha, você até tem um rostinho bonito, só precisa engordar uns quilinhos. E você sabe muito bem como, não é? É só ter um pouco de vergonha na cara”? Não diria. Por que, então, dizer o contrário parece razoável? E nem chamaria o Keith Richards ou a Amy Winehouse de decadentes porque eles andam muito magros. Talento, voz, criatividade, profissionalismo, nada disso tem a ver com peso ou aparência física. Será difícil entender isto?
Há um grande, um enorme preconceito. Este sim está muito acima do peso. E parece que o preconceituoso professa sua maledicência com a generosidade dos santos: é para o seu bem! Uma ova! O preconceito contra os gordos é o único tolerado hoje em dia. Ou contra os feios, vá lá! Está claro que, ao contrário do que a arte, através dos séculos estabeleceu, a partir de 1968 (com Twiggy) ser magricela é que é o tal. As formas arredondadas foram para o brejo depois de 25 vigorosos e rotundos milênios alimentando desejos e fantasias da alma humana.
Elvis é um dos meus heróis e eu prefiro sua fase mais madura. Quando diziam que ele estava decadente, embora cantasse como nunca. Um dia desses uma criança mal-educada quis ensinar ao meu filho que as pessoas ou eram magras ou eram gordas, e as magras eram melhores. Ainda bem que ele esqueceu em um segundo. Quando meu filho olha para mim vê o que eu sou para ele. Quando meu público olha para mim, acontece a mesma coisa. E o resto? O resto que vá para o inferno.
Eu digo que pra mim existem dois tipos de mulher: as que gostam de mim e as outras. E juro que as que gostam de mim são muito mais interessantes. Mulheres, parem com essa obsessão de perder dois quilos! Homens gostam de mulheres companheiras, bem humoradas e boas de cama. Homens, atenção! Quem repara demais na celulite das moças acaba preferindo bunda de rapaz. Não que eu tenha algo contra isto. Cada um que descubra o que lhe apraz.
Brincadeiras à parte, deixe-me concluir. Não é preciso aceitar, mas tolerar. Eu é que não sei se tenho estômago para tolerar esse preconceito. Por exemplo: ver o Ronaldo Fenômeno chorar ao despedir-se cortou-me o coração. Seu corpo não o venceu, o preconceito sim. Aturar anos de humilhação é duro até para os heróis.
Leo Jaime
Texto original em http://leojaime.blog.uol.com.br/
A princípio eu pensei em publicar simplesmente o texto sem fazer comentário algum, mas depois achei que deveria, ao menos expor o que penso.
O Leo é contemporâneo do Dinho Ouropreto do Capital Inicial e, olha (ah!) eles estão sempre no BBB!
Só porque o Dinho é magro continua na moda!
Outro dia estava esperando por meu marido, encostada na entrada do shopping, mau humorada por que tinha comprar um novo jeans, e fiquei prestando a atenção nas pessoas que passavam por mim e, a cada 10, 9 estavam fora do peso!
Eu, por exemplo, sempre fico irritada quando tenho que comprar um jeans novo, pois, apesar de pesar pouco, o que serve na cintura, não fecha o ziper por causa do quadril e o que passa no quadril, fica largo na cintura.
Apesar de eu pesar os mesmos 45kg da minha juventude, o 36 não me entra mais!
A a idade pesa para baixo, está certo que a força da gravidade vence a gente com o tempo, mas eu não vejo mais nenhuma garota de 15 anos cabendo em um 36!!
Mas voltando a vaca fria...
Eu ouvi o Leo falando no programa da Leda Nagle que, mesmo para os politicamente corretos, fazer piada ou discriminar pessoas gordas é normal!
A ditadura da boa saúde é incrível!
A colher de maionese tem apenas 40 calorias!
Quem disse que eu quero a maionese "magra"? Eu quero a maionese saborosa!
Hoje em dia eu sou obrigada a manter a forma, a aceitar aquela igreja com aqueles auto-falantes imensos, a ter uma religião, não posso brigar com meu vizinho porque ele pode me acusar de racismo, mas o gordo eu posso discriminar!
Tem até várias maneiras de se discriminar as pessoas que estão acima do peso:
1 - Se o sujeito for gente boa e você gostar dele faça assim:
Quando alguém não souber onde fica um determinado local indique da seguinte forma:
É logo depois da casa daquele "gordinho ali".
2 - Se for aquela vizinha fofoqueira, faça assim:
É depois da casa daquela gorda!
3 - Se for aquela vizinha realmente insuportável:
Logo ali depois da casa daquela gordona!
Está certo que "todo reprimido é um repressor em potencial", mas gente, negar emprego a alguém porque está acima do peso já é demais!
Quando a imprensa toda "caiu de pau" no Ronaldinho porque ele estava gordo todo mundo achou legal.
É, é isso ai! Vamos fazer piada com o "cara" porque ele é gordo!
Mas quando Ronaldinho, vencido pelo preconceito, chorou ao se despedir do futebol, ninguém achou a menor graça!
Então vamos deixar de babaquice de dizer que no Brasil não existe preconceito, pois existe sim!
E se você, politicamente correto, também riu de alguma piada sobre o Ronaldinho, saiba que você é a mais medíocres das criaturas, pois o seu preconceito é velado!
E para terminar, um vídeo do Leo Jaime, para mostrar o quanto ele é competente!
Vídeo: You Tube
Imagem: Google
Mas voltando a vaca fria...
Eu ouvi o Leo falando no programa da Leda Nagle que, mesmo para os politicamente corretos, fazer piada ou discriminar pessoas gordas é normal!
A ditadura da boa saúde é incrível!
A colher de maionese tem apenas 40 calorias!
Quem disse que eu quero a maionese "magra"? Eu quero a maionese saborosa!
Hoje em dia eu sou obrigada a manter a forma, a aceitar aquela igreja com aqueles auto-falantes imensos, a ter uma religião, não posso brigar com meu vizinho porque ele pode me acusar de racismo, mas o gordo eu posso discriminar!
Tem até várias maneiras de se discriminar as pessoas que estão acima do peso:
1 - Se o sujeito for gente boa e você gostar dele faça assim:
Quando alguém não souber onde fica um determinado local indique da seguinte forma:
É logo depois da casa daquele "gordinho ali".
2 - Se for aquela vizinha fofoqueira, faça assim:
É depois da casa daquela gorda!
3 - Se for aquela vizinha realmente insuportável:
Logo ali depois da casa daquela gordona!
Está certo que "todo reprimido é um repressor em potencial", mas gente, negar emprego a alguém porque está acima do peso já é demais!
Quando a imprensa toda "caiu de pau" no Ronaldinho porque ele estava gordo todo mundo achou legal.
É, é isso ai! Vamos fazer piada com o "cara" porque ele é gordo!
Mas quando Ronaldinho, vencido pelo preconceito, chorou ao se despedir do futebol, ninguém achou a menor graça!
Então vamos deixar de babaquice de dizer que no Brasil não existe preconceito, pois existe sim!
E se você, politicamente correto, também riu de alguma piada sobre o Ronaldinho, saiba que você é a mais medíocres das criaturas, pois o seu preconceito é velado!
E para terminar, um vídeo do Leo Jaime, para mostrar o quanto ele é competente!
Vídeo: You Tube
Imagem: Google
2 comentários:
Vivemos em um mundo de aparências e com o tempo a gente aprende a se amar e gostar do jeito que a gente é Katia. Em nome de um peso ideal muitas mulheres estão doentes e perderam até a vida. Acho que vaidade excessiva faz mal para a mente, o corpo e para quem está perto. Conheço casos que até irritantes. Vamos cuidar da saúde e ser feliz!!
Eu caminho todos os dias e frequento a academis do meu condomínio. Sem neura.
Beijos de bos sexta-feira.
Carla Fernanda
Adoro o Léo Jaime e não sabia que ele estava sofrendo preconceito por ser gordinho. É realmente um mundo hipócrita este em que vivemos, mas fiquei feliz ao vê-lo no programa "Amor e sexo" da Rede Globo. Tomara que seja a sua volta. Abraços!
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