Agora pouco estava lendo o que publiquei sobre o vídeo da Rita Lee, me deparei com o ano do meu nascimento e me lembrei de uma frase que um amigo sempre dizia: “Se uma mulher tem a coragem de dizer a sua idade verdadeira, corra dela, pois você deve imaginar que outras verdades ela é capaz de dizer”.
Parei para pensar e eu mesmo assim. Algumas vezes ouço as pessoas falarem errado (aqueles erros que chega a doer o ouvido), vejo certas coisas e digo para mim mesma: Não vou falar, não vou falar, quando eu vejo, já falei.
Já prometi para mim mesma que ia manter a minha enorme boca fechada, mas realmente não consigo. Isso me coloca em situações meio delicadas.
Estávamos sem muros em nossa casa e isso causava certo incômodo, pois todos que passavam na rua olhavam para dentro do quintal.
Todos os dias eu passava pelas ruas prestando atenção nas obras e analisando o “serviço” dos pedreiros antes de chamar um para trabalhar em nossa casa.
Pelas redondezas havia uma casa cujo muro era algo impressionante, pois, além de torto, era só a gente encostar nele ia para frente, mas ele voltava. Era o chamado “Balança mas não cai”.
Depois que uma vaca invadiu o nosso quintal, meu marido resolveu chamar alguém para fazer o muro.
Não é que ele chamou justamente o construtor do “Balança mas não cai”?
Cheguei em casa e lá estavam os dois medindo daqui e dali na maior empolgação. Entrei desejando uma Boa tarde, mas sem dar margem para participar da coisa.
Mas é lógico que tinha que fazer parte da coisa ou não conheço o marido que tenho?
Não demorou muito para ele me perguntar como eu queria o muro.
Cheguei ao local e fiquei pensando: Como alguém pode querer um muro?
Um muro leva um tijolo em cima do outro.
Como o Zé insistia na pergunta, tive que responder:
- Quero que muro seja reto e que não balance quando a gente encosta nele.
Foi o suficiente para o pedreiro sair falando mal de mim e até inventando coisas que não falei, embora tivesse vontade.
Numa outra feita, fui convidada para uma festa no condomínio. Assim que cheguei arrumei um grude que falava sem parar nos meus ouvidos. Lógico que desliguei e deixei a criatura falar, falar, falar.
Por mais que eu deixasse a fulana falando sozinha, tinha uma palavra que ela dizia que me deixava realmente muito irritada: POBREMA
Toda vez que ela falava POBREMA um sino tocava dentro da minha cabeça. O pior é que ela falava o tempo todo que o POBREMA, mas o POBREMA.
Eu mordi os lábios, arregalei os olhos, olhei para o lado, mas aquilo foi me irritando tão profundamente que não importava mais o que ela falava, eu só ouvia o tal do POBREMA!
Chegou uma hora que ela virou para mim e falou:
- Mas o POBREMA...
Nem deixei ela terminar a frase e sai logo dizendo:
- Então são dois: O problema em si e a palavra que você acabou de falar errado!
Sai da festa com fama de antipática.
A gente sabe que criança briga agora e daqui 5 minutos está brincando junto, mas morar em condomínio significa que se 2 crianças brigam você que torcer para um pai ou uma mãe não bater na sua porta.
Eu já tinha decidido que só aceitaria reclamações do meu filho se antes a pessoa enviasse a reclamação ao Vaticano e o próprio Papa mandasse seu aval, mas naquele domingo estava ouvindo o meu marido com um pessoal tão insistente do lado de fora que resolvi sair e perguntar:
- O que aconteceu?
Uma senhora, que mais parecia um botijão de gás com aquelas roupinhas que a gente compra no 1,99, me respondeu aos berros:
- Seu filho deixou o meu desmaiado!
- Como? – perguntei eu, bem assustada, pois meu filho é meio bruto e já vi isso acontecer uma vez.
Ela repetiu aos berros ao lado do marido e filha:
- Seu filho deixou o meu desmaiado no meio da rua!
Parei, olhei para a mulher, para o marido e para a filha e pensei: - Se meu filho tivesse desmaiado, seja lá por qual motivo fosse, primeiro eu socorria, depois eu via o resto.
Insisti na pergunta, só que de outra forma:
- Eu quero saber o que ele fez para deixar seu filho desmaiado.
Melhor que eu nem tivesse perguntado:
- Meu filho foi dar um chute no seu filho, ele segurou o pé dele e ele caiu no chão e bateu a cabeça.
Deve haver alguma coisa errada comigo, pois eu acho que meu filho apenas reagiu ao ataque.
Virei as costas e ia entrando quando a criatura resolveu me provocar:
- Vou dar parte do seu filho na polícia!
Desisti de entrar:
- Vai, minha filha, vai fazer um papel mais ridículo do que acabou de fazer aqui!
- Em primeiro lugar: se fosse o meu filho que estivesse desmaiado eu correria primeiro e depois via o que ia acontecer;
- Em segundo lugar: se o menino desmaiou na rua e você está aqui, seu marido está aqui e sua filha também, quem está tomando conta do desmaiado?
- Em terceiro lugar: pelo que entendi, seu filho tinha que chutar o meu e o meu deveria ter dado um beijinho nele?
- Em quarto lugar: os dois são menores de idade, se quiser ir a polícia vá. Se você quiser mesmo saber, seu filho é um ano mais velho que o meu e não culpa minha se ele é desnutrido!
Pronto! Criei mais uma inimizade, pois eu podia ter falado tudo, menos que o menino era raquítico!
Eu juro que tento não falar nada, mas o Zé costuma dizer que só a maneira como olho já fulmina as pessoas!
Fica difícil, pois se não posso falar, nem olhar para ninguém vou ter que morar numa ilha deserta!
Pensando bem, se morar numa ilha deserta, acho que até os peixes e plantas vão se incomodar com meus comentários fora de hora.
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