Com o fim da aprovação automática todos viram o que os educadores já sabiam há muito tempo: a maioria das crianças até o sexto ano não sabia ler!
Quando comecei a dar aulas em minha residência, pensei em lidar com matérias do currículo normal da língua portuguesa, entretanto a realidade era bem outra, pois as crianças não sabiam sequer ler, quanto mais as regras da língua.
Então, me vi diante de um dilema: Como ensinar essas crianças a ler?
Me deparei com o método disso, método daquilo e fiquei em dúvida qual seria mais eficiente.
A maioria dos educadores utiliza o método da “decoreba”, começam com a letra c, mostram algumas palavras com essa letra e passam para a próxima.
Nunca vi isso funcionar!
Não há lógica nesse método de ensino!
Como trabalhar palavras se uma criança não sabe o que é uma letra? Qual a diferença entre vogal e consoante?
Não posso dizer que inventei nada, mas posso afirmar que alfabetizei 100% das crianças que chegaram até mim.
A coisa é muito simples:
1º - Colégio não é brincadeira, eu não estou lá para brincar e nem a criança;
2º - Tudo tem a sua hora, estudo tem que ser levado a sério;
3º - A primeira coisa que as crianças tem que aprender é a diferença entre vogal e consoante, por isso, tem que conhecer o alfabeto, letra por letra;
4º - Eu não mudo a ordem do alfabeto, começo a juntar a consoante B com cada uma das vogais, formando “pedacinhos” e “apresentando algumas palavras que se iniciam com eles;
5º - Cada vez que ensino um pedacinho, faço cartões com eles, depois de ensinar uma série deles, passo a misturar para formar palavras;
6º - Depois de aprender a formar e ler pedacinhos que formam palavras fica mais fácil ensinar a ler frases ou até mesmo, pequenos textos.
Certo? Errado?
Não sei, mas não conheci criança que não aprendesse a ler dessa forma, pois há uma lógica na coisa.
Vamos analisar item por item:
1º - Não acredito que criança não deva ter responsabilidades, a responsabilidade da criança é estudar e do professor de ensinar. Se a criança achar que pode simplesmente brincar em todos os lugares, nunca irá adquirir responsabilidades na vida adulta. Acho as musiquinhas com letras muito bonitinhas, porém pouco eficientes.
2º - Criança não vai para escola porque gosta, mas tem que entender porque está indo. Criança que vai para escola e fica olhando para o professor com “cara de paisagem” ou fica conversando o tempo todo, deveria ficar em casa, pois atrapalha os demais.
3º - Criança tem que decorar o alfabeto, não palavras prontas. Cada criança tem que saber de cor cada letra do alfabeto, entender que as vogais é que dão “som” para as consoantes.
4º - Se fiz as crianças decorarem o alfabeto na ordem, mostrei a diferença entre vogais e consoantes, nada mais justo de começar a juntas as vogais com as consoantes na ordem.
5º - O método dos cartões é muito simples: cada vogal tem uma cor própria e cada letra também. A criança, primeiro memoriza o som que cada vogal dá com cada consoante.
Depois faço cartões com a cor da letra já formando os “pedacinhos”. Não dá para mudar de consoante antes de aprender completamente a anterior.Depois de memorizar o som que cada vogal forma com cada consoante fica fácil misturar “os pedacinhos” e ensinar como se formam palavras. As crianças aprendem como as palavras são formadas, vem um porque no que estão aprendendo.
6º - Crianças que lêem palavras conseguem ler frases ou textos, pois percebem que tudo é acrescentar e tudo tem sentido.
Difícil? Não! Basta ter boa vontade. Isso tudo é mais fácil e mais prático do que ficar empurrando palavras pela goela a baixo das crianças.
Elas decoram a forma como elas são escritas, aprendem a copiar e não aprendem a ler.
Criou-se uma legião de analfabetos funcionais que reconhecem palavras, alguns até aprendem a ler, mas não chegam a compreender o que escrevem o lêem.
Quando essas crianças crescem passam a ter verdadeiro horror de matérias como língua portuguesa ou história, pois não entendem o sentido das palavras.
Não é falta de vontade do professor e sim do sistema. O sistema obriga o professor a trabalhar dessa maneira.
Quem são os responsáveis pelo sistema? Os mais interessados no analfabetismo do povo.
Os mesmos que criaram a reprovação automática.
Sem educação o povo nunca terá condições de contestar nada.
Será que o nosso país consegue ficar pior?
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