sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O corpo




Um corpo feminino solto pelo ar.
Está vestido, mas se sente nu.
Há móveis e objetos ao seu redor, mas nada vê.
Está cercado de pessoas, mas nada sente.
O corpo flutua entre os cômodos de uma casa que quanto mais cheia, mais só se sente.
Nada ali lhe pertence, apenas um vago olhar de reprovação o persegue.
Como um fantasma ocupa um local que não é mais seu e, embora ainda seja matéria, seu corpo não sente mais os descasos da vida.
Apenas sua alma insiste em chorar e sofrer por não existir mais.
Já houve vida nesse corpo, mas o tempo o convenceu a se tornar uma triste sombra errante que vaga pelas noites solitárias tentando não sufocar completamente.
Vejo uma sombra que se move ao longe solitária.
Não tem vontades, sonhos, esperanças ou desejos.
Vejo um fantasma que não atravessa paredes ou o túnel do tempo e apenas em seus pensamentos consegue voar.
Vejo um corpo que desaprendeu a entender as palavras, apenas as ouve sem nenhuma compreensão.
O corpo se move enquanto ainda houver ar que possa respirar, pois os gritos o calaram e o descaso o tornaram invisível.

Um comentário:

Maria Betânia disse...

A mulher reduzida a categoria de merto objeto de consumo, perdida ente demandas q muitas vezes não são as suas...
Um retrato da mulher contemporânea, sem dúvida...