quinta-feira, 16 de maio de 2013

Ser ateu é direito meu







Eu juro que eu gostaria ser ser uma pessoa crédula e achar que existe alguém cuidando de nós, mas não há.
É confortável achar que existe um pai eterno tomando conta de nossos passos, como éramos crianças, mas não há.






Hoje está cada vez mais difícil se dizer ateu sem ter alguém tentando te converter ou te discriminando.
Tenho medo que mais dia, menos dia, sejamos obrigados a nos converter em alguma religião.
Eu fazia um curso e a professora só começava a aula após rezar.
Primeiro eu procurei ficar quieta no meu canto, depois comecei a sair e ir ao banheiro enquanto ela rezava - primeiro ela passou a me esperar para rezar e depois começou a rezar depois que eu voltava. Por último eu passei a chegar no limite que tinha para atraso de aluno e a professora passou a esperar que eu chegasse para rezar, chegando ao ridículo de interromper a aula para rezar depois que eu já estivesse lá.
Para não entrar em polêmica, larguei o curso.
Eu não sou a única pessoa que sofre preconceito por não acreditar.
Falta mesmo respeito entre os religiosos em relação aos que não acreditam.
Quando meu filho era pequeno, era o alvo preferido dessas pessoas, pois meus vizinhos acreditavam que se conseguissem convertê-lo, acabariam trazendo seus pais para a igreja ou mesmo "salvando" pelo menos "uma alminha".
A maioria dos meus vizinhos ou são evangélicos ou estão se convertendo.
O preconceito mais ridículo que eu sofri foi numa reunião de condomínio onde o síndico era evangélico e simplesmente não me deixava falar, passando a vez para "algum irmão ou irmã". 
Quando a minha paciência chegou ao limite, passei fazer a saudação a Hitler cada vez que ele falava algo e isso levou aos não evangélicos a refletirem melhor sobre a situação e tivemos uma série de protestos em relação a situação. No final, pedi que desse uma cópia das propostas apresentadas para que eu levasse para o meu advogado analisar.
Ele pediu demissão do cargo.
Depois que ele se demitiu, foi descoberto um enorme rombo no orçamento do condomínio.
As pessoas aprovavam seus orçamentos na boa fé que o "bom pastor" não desviava a verba, mas quem foi que determinou que o caráter se mede pela religião que a pessoa frequenta?
Eu sempre ouço: "Fulano é um homem bom, é pastor da igreja tal".
E também é bem comum: "Ih! Fulano é macumbeiro".
Pouco tempo depois do "pastor e seus discípulos" terem mudado do condomínio - a maioria por ordem de despejo - apareceu o "Bonde de Jesus".
O Bonde de Jesus era um grupo que saía com bumbos e triângulos pelas ruas do condomínio no domingo a tarde gritando: "Jesus te ama e eu também!"
Lógico que eles faziam isso naquele horário em que todos já tinham acabado de almoçar e estavam tirando a "sesta".
Eles incomodavam a todos, pois batiam nas portas e tocavam as campainhas das casas para serem atendidos e terem seus panfletos com a divulgação da sua igreja devidamente distribuídos.
Alguns começaram a se incomodar com a situação.
Teve um que começou a abrir o portão de cuecas e outros com cervejas na mão, mas o bonde só desapareceu mesmo quando as vigílias e os enterros do diabo passaram a ser constantes.
Não, meu caro leitor, você não leu errado, eles passavam a noite inteira com um caixão fechado onde eles diziam estar o diabo e pela manhã enterravam em um terreno qualquer. Depois vinha alguém da igreja e desenterrava para aproveitar o caixão para a próxima semana, afinal, caixão está caro!
Embora todos achassem que aquilo era um absurdo, ninguém queria o diabo enterrado no terreno ao lado do seu.
O "Bonde de Jesus" desapareceu.
Eis que surge uma nova tendência nas igrejas: evangelizar!
Para mim é maneira mais chata de tentar convencer as pessoas que a religião é o melhor caminhos, pois a gente chega em um ponto de ônibus com medo que a pessoa que está lá venha puxar conversa e "mostrar como deus é generoso, apesar da sogra ter que cortar as duas pernas para não gangrenar".
Foi então que uma vizinha resolveu ouvir hinos evangélicos no último volume de seu som para disseminar a "palavra do senhor". 
Eu juro que queria conseguir ouvir meus próprios pensamentos, mas não conseguia!
Eu já estava preferindo ser surda, pois não conseguia nem ouvir o noticiário da TV! 
Foi quando chegou o feriado e um outro vizinho resolveu rebater os hinos com um som mais ensurdecedor ainda, ligado em uma rádio que só tocava axé. Foi quando eu cheguei a conclusão que antes da gente aborrecer o nosso vizinho com um som extremamente alto deve pensar que ele pode ter um som mais potente e um gosto musical duvidoso.
Nunca mais se ouviu hinos evangélicos vindo da casa da tal senhora.
Quando o condomínio passou a ser dirigido por pessoas que, embora tivessem religião, não faziam questão de impô-la aos demais, as coisas ficaram mais razoáveis.
Mas não pensem que os absurdos deixaram de existir, pois os condôminos não permitem que o carro do pão entre porque faz barulho, não permite o carro do gás porque faz barulho, não permitiram a festa junina porque ia fazer barulho, mas queriam permitir que o pastor colocasse um trio elétrico na pracinha para promover "uma tarde com Jesus".
É, a luta continua, pois ser ateu é direito meu.

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