quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O rei da favela



Jonas era muito novo quando a sua namorada engravidou.
Casou-se muito cedo e muito cedo se separou e voltou para a casa dos pais.
Seu pai trabalhava no departamento de obras e estava trabalhando na abertura de uma nova estrada para ligar dois bairros.
Estava se mudando para um lugar novo para começar uma vida nova.
Como se casou muito novo, tinha pouco estudo, dois filhos que ficaram com a esposa, resolveu montar um pequeno bar para ganhar a vida.
No começo era tudo muito difícil, pois havia poucas moradias, o bar servia basicamente aos trabalhadores da obra na estrada.
Os trabalhadores foram se mudando para o entorno da obra, pois, como toda obra governamental demora mais do que o necessário.
Com eles vieram sua família, amigos e um novo bairro foi se formando em torno de seu pequeno bar.
Jonas foi te tornando referência no local. Ouvia o morador quando falecia um parente, quando casais se separavam, passou a ser amigo da comunidade, alguém com quem podiam contar.
O seu bar prosperou e Jonas continuava lá trabalhando junto ao povo que aprendeu a amar.
Com o passar do tempo, as pessoas passaram a ter Jonas como referência, pois o seu enorme coração não podia ver uma pessoa passar dificuldades sem tentar ajudar.
Faltava dinheiro para gás? Pedia fiado para o Jonas.
A telha furou? Pede ajuda para o Jonas que ele vai falar com um e com outro e, além de comprar a telha, ainda vai arrumar alguém que faça o serviço na “camaradagem”.
Jonas era respeitado por todos os moradores, dos mais pobres aos mais abastados.
Nunca foi intenção de Jonas, mas ele acabou sendo o “rei do bairro”.
A comunidade se formou sem nenhum planejamento das autoridades responsáveis, portanto, era Jonas que resolvia todos os problemas locais. Virou um verdadeiro líder.
A certa altura, a comunidade agradecida ao amigo resolveu homenageá-lo em seu aniversário.
Uma imensa festa foi organizada em um sítio local. Nenhum detalhe foi esquecido: tinha piscina, videokê, ping-pong, churrasco, cerveja, refrigerante, quadra de futebol, bolo, tudo que um grande amigo merecia.
A comunidade compareceu em peso. Tanto com dinheiro, quanto com a presença.
Famílias inteiras se espalhavam pelo gramado do sítio.
Jonas se sentia como um verdadeiro rei.
Tudo corria na maior tranqüilidade e felicidade. Era o primeiro dia em muitos anos em que o bar do Jonas estava fechado, estavam todos comemorando.
Como toda felicidade não é eterna e nem todas as pessoas sabem beber, um grupo de rapazes se envolveu numa briga e foram expulsos da festa.
Não demoraram muito e voltaram num carro em alta velocidade, armados, atirando em todas as direções.
Alguns policiais que participavam da festa revidaram e pediram reforços às suas delegacias.
Estava formada a confusão: pessoas corriam, tentando evitar os tiros, mães gritavam desesperadas com seus bebês no colo, armas surgindo de todos os lados.
Jonas não acreditava no que estava acontecendo! A sua comunidade pacata e amiga havia virado uma verdadeira guerra.
De onde vieram as armas? De onde apareceram desafetos?
Nunca houve sequer um caso de violência naquela comunidade!
Junto com o reforço policial, veio a imprensa, as ambulâncias...
No dia seguinte estava estampado em todos os jornais: “Chefe da milícia local morre ao ser baleado por grupo rival em festa na comunidade”.
Foram muitos feridos, mas apenas um morto: apenas Jonas morreu em meio ao tiroteio tentando salvar aqueles que tanto amava.
Naquele dia, Jonas morreu duas vezes, pois perdeu a sua integridade sendo comprado a um infrator, coisa que jamais fora em sua vida.

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