domingo, 22 de junho de 2008

A velha Ludovina


Ludovina era uma daquelas velhas chatas que não faz nada sozinha. Vive infernizando os filhos para que lhe sirvam as coisas na mão.
Passa o dia inteiro gritando com um e com outro:
- Ana! Estou com fome!
- Rita! Estou com sede!
Mas tem uma coisa que Ludovina sabe fazer muito bem: Passa o dia inteiro com uma vassoura na mão varrendo a calçada e tomando conta da vida dos outros.
Como faz muito pouco de sua vida, resolveu adotar um pé de Jamelão abandonado no terreno do vizinho. Rega e cuida da maldita árvore como se fosse a mais rara desse mundo.
O fato é que meu filho adora essas malditas dessas frutinhas que não vende em lugar algum e vive dependurado nas árvores para comer e ficar com a língua azul.
Já fiz de tudo para ele abandonar esse vício, mas não adianta. É só chegar a época de férias e as frutas começarem a amadurecerem que lá está ele pendurado em uma árvore.
O fato é que o pé de Jamelão que Ludovina cuida dá as maiores frutas do condomínio. Ela não colhe, mas também não deixa ninguém chegar perto. Quer que as frutas apodreçam, mas não pode pegar.
Eu dava aulas o dia inteiro e não tinha muito tempo para essas pequenas coisas.
Entre o turno da manhã e o da tarde, eu passava em casa para almoçar correndo e dar comida para meu filho, mas era tudo calculado segundo por segundo, se algo desse errado, estava o resto do dia ia mal.
Num daqueles dias em que tudo dá errado, eu cheguei em casa atrasada porque o ônibus não passou no horário e, para minha surpresa, meu filho não estava em casa. Foi nesse dia que Ludovina resolveu estragar ainda mais o meu dia.
Escutei uma pessoa aplaudindo insistentemente no meu portão e fui atender achando que era algum recado do meu menino e larguei a comida no fogo para atender.
Quando eu cheguei ao portão a velha foi logo vomitando as palavras com a sua boca mole: “Seu filho está falando palavrões na minha porta”.
Afinal, uma notícia sobre o paradeiro do meu menino. Pensei que poderia usar essa informação para trazer meu menino para casa. Então, falei para ela: Já que ele está na sua porta, manda ele vir para a casa que eu resolvo com ele.
Virei as costas e corri para a comida que estava queimando no fogão.
Pensei que Ludovina boca mole demoraria pelo menos uns 10 minutos até ir ao final do condomínio, provavelmente eu já teria ido embora, quando meu filho viesse para casa, mas...
Nem bem eu desliguei o fogo os aplausos voltaram a ser ouvido no portão.
Pensei que era uma outra pessoa com mais uma reclamação do meu filho, mas, para minha surpresa era Ludovina.
Com certeza aquela velha não tinha ido até o final da rua sequer para voltar tão rápido!
Mais uma vez ela vomitou a frase: “Seu filho está falando palavrão na minha porta!”
Eu sabia que o que ela queria, na verdade que eu a acompanhasse, pouco importava para ela a minha vida ou o que eu tinha para fazer naquele momento, afinal, ela estava tão acostumada a mandar e todos obedecerem.
Como eu não estava disposta a me submeter aos caprichos de uma velha rabugenta, repeti a mesma frase de antes, porém, sem a mesma paciência de antes.
Também fiquei acompanhando para ver se ela chegava pelo menos até o final da rua e ela foi se arrastando pela rua. Até desaparecer por completo.
Entrei já na captura da minha bolsa, pois a essa altura já tinha perdido o ônibus e chegaria atrasada. Foi quando ouvi de novo os aplausos no portão.
Já com a bolsa pendurada no ombro e as chaves na mão fui atender a velha, dessa vez porque estava no meu caminho.
A velha se virou e ganiu:
- Seu filho está falando palavrão na minha porta.
Num ataque de loucura, por estar atrasada, por não ter conseguido tirar o meu atraso em casa pelas inúmeras interrupções de uma velha que não tem o que fazer além de perturbar as pessoas que têm o que fazer, eu falei calmamente:
- Porra, puta que pariu, caralho! Eu já falei para esse moleque não falar palavrão!
A velha me olhou com aquela cara de espanto e de quem não acredita seriamente no está ouvindo e sai sem dizer mais nem uma palavra.
Nem precisa dizer que a minha má fama correu pelas ruas do condomínio, mas, pelo menos, não perturbou mais o meu filho, pois, para ela ele passou em fração de segundo de acusado à vítima.
O coitadinho era criado por uma mãe desbocada e não poderia falar de outra maneira e apenas Jesus poderia trazer a ele algum conforto.
Claro que a minha intenção não era essa, mas me saiu melhor do que a encomenda, já que ninguém mais veio até a minha porta reclamar do meu filho com medo de ouvir uns palavrões. E todas as vezes que alguém arruma qualquer confusão com meu filho a velha Ludovina parte em sua defesa dizendo ser o coitadinho filho de um lar desestruturado e que não conhece Jesus!
E tudo isso aconteceu sem eu precisar mandá-la Tomar do cu!

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