sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O corpo




Um corpo feminino solto pelo ar.
Está vestido, mas se sente nu.
Há móveis e objetos ao seu redor, mas nada vê.
Está cercado de pessoas, mas nada sente.
O corpo flutua entre os cômodos de uma casa que quanto mais cheia, mais só se sente.
Nada ali lhe pertence, apenas um vago olhar de reprovação o persegue.
Como um fantasma ocupa um local que não é mais seu e, embora ainda seja matéria, seu corpo não sente mais os descasos da vida.
Apenas sua alma insiste em chorar e sofrer por não existir mais.
Já houve vida nesse corpo, mas o tempo o convenceu a se tornar uma triste sombra errante que vaga pelas noites solitárias tentando não sufocar completamente.
Vejo uma sombra que se move ao longe solitária.
Não tem vontades, sonhos, esperanças ou desejos.
Vejo um fantasma que não atravessa paredes ou o túnel do tempo e apenas em seus pensamentos consegue voar.
Vejo um corpo que desaprendeu a entender as palavras, apenas as ouve sem nenhuma compreensão.
O corpo se move enquanto ainda houver ar que possa respirar, pois os gritos o calaram e o descaso o tornaram invisível.

Meus oito anos


Meus Oito Anos










Oh ! Que saudades que tenho


Da aurora da minha vida,


Da minha infância querida


Que os anos não trazem mais !


Que amor, que sonhos, que flores,


Naquelas tardes fagueiras,


À sombra das bananeiras,


Debaixo dos laranjais !


Como são belos os dias


Do despontar da existência !


- Respira a alma inocência


Como perfumes a flor;


O mar é - lago sereno,


O céu - um manto azulado,


O mundo - um sonho dourado,


A vida - um hino d'amor !


Que auroras, que sol, que vida,


Que noites de melodia


Naquela doce alegria,


Naquele ingênuo folgar !


O céu bordado d'estrelas,


A terra de aromas cheia,


As ondas beijando a areia


E a lua beijando o mar !
Oh ! dias da minha infância !


Oh ! meu céu de primavera !


Que doce a vida não era


Nessa risonha manhã !


Em vez das mágoas de agora,


Eu tinha nessas delícias


De minha mãe as carícias


E beijos de minha irmã !


Livre filho das montanhas,


Eu ia bem satisfeito,


Da camisa aberta o peito,


- Pés descalços, braços nus


-Correndo pelas campinas


À roda das cachoeiras,


Atrás das asas ligeiras


Das borboletas azuis !


Naqueles tempos ditososIa colher as pitangas,


Trepava a tirar as mangas,


Brincava à beira do mar;


Rezava às Ave-Marias,


Achava o céu sempre lindo,


Adormecia sorrindo


E despertava a cantar !


.........................................................................................


Oh ! Que saudades que tenhoDa aurora da minha vida,


Da minha infância queridaQue os anos não trazem mais !


Que amor, que sonhos, que flores,Naquelas tardes fagueiras,


À sombra das bananeiras,Debaixo dos laranjais !


Casimiro de Abreu

Tv aberta




A tv aberta está com uma enxurrada de repórteres fazendo perguntas idiotas e gritando com os seus entrevistados que é um absurdo!
De primeiro, esse tipo de atitude era tomada apenas pelos programas de humor, mas hoje em dia até um programa que se considera sério como o Esporte Espetacular está fazendo uso desse tipo de artifício.
Será que existe alguém nesse mundo que ache alguma graça em repórteres vestidos com ternos da década de 60 falando aos berros e ridicularizando seu entrevistado?
A pessoa que tem uma vida pública tem que ter uma paciência de Jó, pois ou aceita com bom humor as “brincadeiras” ou é considerado mal educado, antipático.
Na época do Pan-americano, o narrador âncora da Rede Globo, Galvão Bueno caiu na asneira de comentar que os jogadores de basquete brasileiro estavam comemorando a vitória com a “Dança do Siri”.
Como todos sabem a tal dança foi uma invenção do programa “Pânico na TV”, que na minha opinião é o programa de um mau gosto incrível, mas como hoje em dia tudo que é ruim parece fazer sucesso, tem a sua audiência.
O fato é que o coitado do narrador teve a sua vida particular invadida por dois “humoristas” do programa que passou a perseguí-lo por todos os lugares para obrigá-lo a realizar a tal dança. Difícil saber o que foi mais ridículo: se foi o apresentador fugindo dos humoristas ou a perseguição sem o menor cabimento.
Por ser famoso o narrador Galvão Bueno acabou sendo obrigado a dançar a tal dança ridícula, pois sua vida se tornou um verdadeiro inferno.
Para nossa sorte, programas desse tipo não duram muito tempo, pois normalmente o seu público é composto basicamente de adolescentes volúveis e ávidos de novidades. Esse é o lado bom da história, o ruim é que sempre aparece um programa pior para preencher o horário.
Aliás, fazer humor em nosso país está cada vez mais difícil porque tudo é considerado preconceito e passível de processo.
Há alguns anos um comediante chamado Tiririca lançou uma música que foi considerada racista e sabem o que eu acho mais impressionante?
É que o tal comediante também é afro-brasileiro! Como poderia ele estar falando contra suas raízes?
Neste carnaval uma escola de samba foi impedida de colocar um de seus carros alegóricos na Marquês de Sapucaí porque mostrava o holocausto. O carro alegórico mostrava o fato como algo terrível na história da humanidade, não fazia apologia ao facismo, ao racismo ou a qualquer outro ismo que possam se lembrar.
Uma pessoa pode ser considerada preconceituosa simplesmente por não gostar de um estilo musical.
Estamos criando uma censura bem pior do que no tempo da ditadura, pois na época, só não podia falar mal do governo, hoje não se pode falar nada.
Se você se sente incomodado com aquele irmão da igreja que te acorda todos os domingos pela manhã ao invés de xingá-lo, receba-o com um sorriso, pois não existe lei para proibi-lo de bater em sua porta, mas você pode ser considerado preconceituoso e ser enquadrado!
Eu que não sou boba nem nada desligo a campainha no sábado e durmo nos fundos da casa para não correr o risco de levantar e falar uns impropérios para a criatura logo pela manhã e acabar em alguma delegacia.
Agora eu fico pensando uma coisa: Eu sou uma pessoa comum e muitas vezes me sinto invadida na minha privacidade, agora vocês imaginem uma pessoa famosa o que deve sofrer.
Já se aprovam tantas leis nesse país, podiam aprovar uma lei determinando que o telemarketing estava proibido. Tem coisa mais chata do que ficar recusando uma série de produtos o dia inteiro?
Eu agora já decidi: Se o telefone toca e a pessoa pergunta com quem está falando ou se pode falar com a dona da casa eu vou logo dizendo que sou a empregada e que os patrões só chegam tarde da noite.
Eu sei que isso não se faz, que as pessoas estão trabalhando, mas eu não atendo nem a porta se a pessoa não falar o meu nome. A campainha queima de tanto tocar.
Quando eu comprei o meu terreno tive o cuidado de comprar em um condomínio fechado e bem no finalzinho, para não ser incomodada e mesmo assim sempre tem um chato para me encher.
Agora vocês imaginem uma pessoa famosa se nega a dar uma entrevista a um repórter chato e este manda jogar um caminhão cheio de areia no portão de sua residência. Acreditem, eu vi isso acontecer no mesmo programa que já citei.
Será possível que as pessoas perderam de vez o senso de ridículo?
Como eu costumo dizer, só tem espetáculo se houver platéia, portanto os grandes culpados por essa pouca vergonha é o povo que fica assistindo essas porcarias.
Se for falar sobre as porcarias que a tv aberta apresenta diariamente, vamos ficar aqui dias e dias e chegaremos à conclusão de que o que deveria entreter e divertir passou a ser apenas algo para fazer barulho quando estamos sozinhos em casa.
Os contratos mais baratos da tv a cabo, embora ainda deixe muito a desejar, ainda é a melhor opção.

Fim da picada


Parece que a ousadia dos bailes funks está mesmo chegando a um limite extremo.
Se não bastassem as “letras” que exaltam tudo que há de mais podre em nossa sociedade, agora também estimula o nudismo entre seus freqüentadores.
Algumas vezes paro para prestar atenção nas letras das músicas que essa garotada fica repetindo sem parar e fico abismada com tanta cachorra, amantes, putonas, vacilões e outros adjetivos afins que encontramos nessas músicas.
Meu filho outro dia me pediu para assistir um DVD e eu fiquei espantada com o que vi! Tinha um DJ que ficou simplesmente repetindo uma mesma frase durante uns 10 minutos enquanto a câmera mostrava duas garotas dançando de costas. Mentira, a câmera mostrava mesmo era a bunda gorda de uma das dançarinas.
Dois fatos me chamaram a atenção no caso da “dançarina”: primeiro é que com tanta celulite e banha ela deveria ter vergonha de usar roupas tão curtas e segundo é que se ela não emagrece dançando daquela maneira é porque deve fazer bem poucos shows!
Eu perdi 3 quilos só de olhar!
Dia desses estava passeando pela net e me deparei com uma reportagem sobre uma garota que tirou a roupa em um baile funk porque o DJ havia prometido 600,00 para quem o fizesse.
Nem por um momento essa criatura pensou que haveria um celular com câmera para filmar o espetáculo que ela estava dando?
Também não imaginou que esse vídeo gravado poderia ir parar na Internet e que sua família e amigos ficariam sabendo?
Pois bem, caros amigos, tudo isso aconteceu e a pobre criatura ficou famosa da pior maneira possível e passou a ser conhecida como a peladona do baile funk.
Por mais que as coisas tenham mudado, a nossa sociedade ainda não vê com naturalidade uma coisa dessas e, lógico que a rapariga foi presa, está respondendo a processo, perdeu o emprego, foi xingada em seu perfil no Orkut e hoje muito poucos ainda se lembram do fato. A grande questão é que como ela existem muitas outras meninas tirando a roupa em bailes como esse. São tantas que se a gente procurar direitinho tem sites só especializado no assunto. Meninas que tiram a roupa e transam de graça para encher os bolsos de alguns espertos.
Se o fato por si só não fosse grave, hoje em dia temos uma doença chamada AIDS que não tem cura e que não dá para saber quem está ou não contaminado só de olhar.
Muitas dessas meninas são pobres e vivem em comunidades carente, aliás muito poucas têm realmente algum poder aquisitivo, mas isso não é desculpa para nada, pois a toda hora e instante se fala na AIDS e em todos os meios de comunicação.
Não sei o que passou pela cabeça da criatura no momento em que começou a tirar a roupa, mas o fato é que o baile estava cheio de menores de idade e isso gerou mais confusão ainda. Se bem que se analisarmos friamente esses menores só são considerados assim perante a nossa caduca legislação, pois “a maioria tem mais horas de cama do que urubu de vôo”.
Conheci uma menina que ia completar 15 que tinha uma filha de 2 anos e estava grávida de 8 meses. E essa não foi a grávida mais jovem que conheci, pois tive uma aluna de 10 anos que engravidou.
Sexo é hoje tão comum entre os jovens quanto beber água ou ir ao banheiro, o grande problema é que fazer sexo sem camisinha hoje é como jogar roleta russa com duas balas no canhão do revólver.
Algumas mulheres engravidam e, por não saber o que fazer com as crianças, jogam fora nos rios, lagoas, esgotos, latas de lixo... Nunca houve tantos casos de crianças abandonadas em situação de risco quantos hoje.
A própria protagonista de nossa história tem 3 filhos sem pai, talvez frutos de aventuras iniciadas em um baile funk qualquer.
Não estou dizendo que todo funk é medíocre, tem até uns que são bonitinhos, mas não fazem tanto sucesso quanto os besteiróis que tocam em bailes do tipo Tsunami.
Fazendo uma pequena analogia, Tsunami foi uma onda gigante que destruiu parte da Indonésia, então seriam esses bailes uma enorme onda com intuito de destruir nossa juventude?


domingo, 17 de fevereiro de 2008

O dia em que a música brasileira ganhou e perdeu um grande compositor


Há um tempo atrás fui convidada para o lançamento de um CD.
Fiquei tão espantada ao saber que o rapaz ia lançar um CD, pois eu não sabia que ele era compositor e ele me respondeu com o peito inflado que tinha 200 músicas registradas em seu nome.
Aparências enganam, pensei ainda meio inconformada olhando para aquela figura disforme, alta e extremamente magra.
Passei o dia inteiro com aquele pensamento a me atormentar: 200 músicas! Seria possível?
De uma coisa eu tinha certeza era que o rapaz não era nenhum literato, mas até onde eu sei, Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, Dominguinhos, Luiz Gonzaga também não eram formados em nenhuma faculdade e nem por isso deixaram de ser brilhantes.
Passei o dia tão envolvida com esses questionamentos que nem me detive nos detalhes da festa em si. Era a primeira vez que alguém que eu conhecia tinha conseguido lançar um CD.
Em meus tempos de adolescência a gente formou uma banda. Cantávamos o que fazia sucesso e compúnhamos pouco. Achávamos difícil combinar palavras, dar sentindo, fazer parecer melodioso e conseguir passar a mensagem.
Eu conheci uma pessoa que tinha 200 músicas registradas em seu nome e ia lançar um CD. Um de uma série, pensava eu, pois em um CD não cabem 200 músicas.
O que será que essa figura tão estranha compunha? Eu me indagava o tempo todo sem conseguir a resposta. Era uma incógnita, pois uma figura célebre como o Mário Lago compôs uma música sertaneja lindíssima como Rancho Fundo e Marcos Valle, uma figura tipicamente “cuca fresca”, conseguiu compor um clássico da MPB como Viola Enluarada.
O autor do famigerado CD era uma figura taciturna e que quando falava parecia ter um ovo escondido na boca. Além de ser o autor ele ia cantar todas as músicas do CD?
Não era inveja o que eu sentia, apenas não conseguia compreender como uma figura como aquela podia compor tanto em tão pouco tempo. Também me perguntava sobre o que seriam as suas músicas.
Quando pensamos em lançamento de CD pensamos em algo glamuroso com noite de gala, convidados especiais, gente famosa e toda publicidade que o evento merece.
Eu me sentia lisonjeada em ter sido convidada para o lançamento, afinal, não é todo dia que a gente é convidado para um evento desse porte. Aliás, desde que me mudei para a “roça” nunca mais tinha sido convidada para nada.
Terminado mais um dia de trabalho, fui para casa comunicar aos meus familiares sobre o evento. Todos ficaram tão espantados quanto eu quando disse quem era o autor do CD, mas enfim, decidimos ir porque ficava bem perto de casa e se tudo mais desse errado era só voltar rapidinho.
Quando chegamos ao local do evento, eu achei tudo meio estranho, pois o chão era de terra e tudo me pareceu meio improvisado, mas fomos tão bem recebidos e o rapaz estava tão contente com nossa presença que achei melhor deixar para lá.
O grande problema é que o local foi enchendo, enchendo, enchendo e eu detesto aglomeração. Foi quando o “nosso amigo” teve a feliz idéia de nos levar para conhecer o camarim.
Eu estava mesmo exultante! Além de conhecer um autor que compôs 200 músicas ainda ia conhecer o camarim e o artista principal da festa, pois nosso “amigo” abriria o show de algum artista famoso.
Quando cheguei ao camarim e vi quem era o artista principal comecei a perceber que havia algo muito errado naquela festa e que havia entrado na maior furada.
O artista principal da noite era nada mais nada menos do que Tati Quebra Barraco!
Naquele momento eu tive a certeza de que no dia seguinte acordaria no céu, pois aquilo só poderia ser o purgatório!
Eu não queria acreditar no que os meus olhos estavam vendo, entretanto todas as minhas perguntas foram respondidas de uma só vez: O rapaz não compôs 200 músicas e sim 200 funks!
Caiu a ficha! Eu precisava ir embora daquele lugar com urgência, mas como fazer isso sem ofender o dono da festa que tinha me dado até um CD autografado?
Como não conseguiria sair de imediato comecei a levantar os detalhes sórdidos da coisa e descobri que o rapaz conseguiu ajuda de um comerciante local, alugou um estúdio por algumas horas e gravou UM CD. O comerciante pegou esse CD, colocou em seu computador e fez 1000 cópias que deveriam ser vendidas nas bancas de jornais locais e na noite de lançamento. As músicas seriam divulgadas nas rádios comunitárias locais.
Eu juro que tudo que conseguia pensar era que desejava que aquela noite nunca tivesse existido!
Não queria estragar a felicidade de ninguém, então, quando as luzes se apagaram e o rapaz falou a primeira, aliás, a única frase da música, eu peguei a minha família e fui correndo para casa antes que alguém percebesse, lógico que eu já tinha me posicionado mais ou menos perto da saída.
Cheguei em casa exausta depois da aventura de sair no meio de um baile funk lotado, mas tinha que ouvir o CD, para dar a impressão de que tinha ficado pelo menos até o final do show do rapaz, afinal, fomos convidados especiais, não pagamos a entrada e nem o CD.
Eu tinha que ouvir aquele CD até por uma curiosidade mórbida. Precisava saber se todas as “músicas” eram iguais a que eu ouvi enquanto saía daquele “maravilhoso” baile de lançamento.
Ouvi pacientemente uma por uma das 14 músicas que compunham o CD e 13 delas eram exatamente iguais a primeira, isto é, eram compostas de uma ou duas frases e mais nada. Para minha surpresa a última música tinha até letra com crítica social, o que me fez sentir menos desolada naquele momento.
Usando o raciocínio matemático, se o rapaz tinha 200 músicas registradas em seu nome e eu conheci 14, conheci apenas 7% do total de sua obra. E se dessas 14 músicas, 1 tinha uma letra razoável, isto é 0,14%, havia uma probabilidade de ter mais alguma coisa que se aproveitasse nas demais, baixa, mas havia.
No dia seguinte não se falava de outra coisa senão no lançamento do CD. Lugar pequeno, muito pouca coisa acontece e quando uma “minhoca” da terra lança um CD, mesmo que de mentirinha, vira um acontecimento.
As rádios locais só tocavam as músicas do rapaz.
Nem preciso dizer que euforia durou muito pouco tempo, o CD não vendeu nem as 1000 cópias tiradas, o rapaz desistiu da carreira de cantor e compositor e arranjou um emprego porque tinha família para sustentar e não dava para ficar vivendo de sonho.
Eu guardo o meu CD até hoje de recordação, afinal, com tanto lixo vendendo no mercado fonográfico, quem sabe algum dia descubram que afinal o rapaz tinha talento e seu autógrafo passe a valer milhões, nunca se sabe.

Amizade

Outro dia ouvi a grande atriz Fernanda Montenegro falar sobre a amizade e as relações entre as pessoas hoje em dia.
Fernanda falava sobre uma minissérie que vai iniciar agora dia 18/02.
A minissérie fala sobre a amizade que não se perde com o tempo, mas que pode ser resgatada a qualquer momento.
Fernanda Montenegro lamentava que hoje em dia perdemos a capacidade de fazer amigos e, o que acho ainda pior, de sermos amigos.
O que mais me tocou na entrevista foi que há bem pouco tempo tivemos uma reunião de pessoas em Paquetá. A grande diferença entre a nossa reunião é que éramos apenas conhecidos, poucos eram amigos de longa data.
Era exatamente isso que a grande atriz falava e que me tocou muito: hoje em dia não temos mais amizades e sim pessoas com quem convivemos.
Hoje temos toda tecnologia à nossa disposição e não temos mais a capacidade de confiar uns nos outros.
Deixamos que o egoísmo nos tornasse mesquinhos e vazios de sentimentos.
Antes convivíamos com pessoas o tempo todo, hoje quase não precisamos mais sair do nosso refúgio sacrossanto de nosso lar para quase nada e, assim, nos mantemos isolados.
A televisão foi o primeiro fator de isolamento, pois as pessoas não precisavam mais sair para obter entretenimento, depois vieram os videogames, os computares, a Internet...
Não que não se possa haver amizade sincera através da telinha do computador, só que falta o contato físico, não conhecemos a voz das pessoas, seus gestos, suas maneiras e, algumas vezes nos decepcionamos quando chegamos a conhecer a pessoa na vida real.
A amizade é a única coisa que nos acalenta em horas de dificuldade e estamos perdendo a capacidade de nos comunicar, expressar e conviver com as pessoas.
Claro que continuamos a nos relacionar com pessoas em nosso cotidiano, entretanto, perdemos a nossa capacidade de entrega. Como se a capacidade de amar nos tivesse sido roubada pelos deuses como um castigo por ter usar tanta tecnologia.
Algumas vezes sinto falta dos meus amigos de caminhada, mas sinto que não consigo mais me relacionar com a mesma sinceridade e transparência com eles. Também perdi a capacidade de amar sem fronteiras e o medo de quebrar a lembrança dos velhos tempos me impede de ter um relacionamento real com eles.
Eu pensava ser o tempo o grande vilão que havia me transformado em uma pessoa insensível, depois pensei ter nascido assim, diferente de outras pessoas, porém, observando os mais jovens cheguei à triste conclusão de que foi o mundo que ficou mais frio. As pessoas por medo de sofrer não arriscam mais em suas relações.
Eu vivo de minhas belas recordações do passado, mas temo pelos jovens deprimidos que não terão sequer um amigo fiel para se recordar.
Minhas lembranças são muito mais do que muitos terão no futuro e, mesmo assim, sinto que minhas relações estão se dissolvendo como papel em água.
Ainda outro dia estava lendo o blog de um amigo muito querido e notei que ele foi agredido verbalmente por uma pessoa que não quis se identificar e que provavelmente não o conhece.
Esse amigo criticava a baixa qualidade da literatura produzida nos dias atuais e foi criticado por uma quantidade de imbecis que não se sabe muito bem como foram parar em seu blog.
Eu penso que a qualidade da nossa literatura está intimamente ligada à baixa qualidade das relações humanas. Não se tem intensidade para amar, não se sofre mais por amor e sim por melancolia, por isso aparecem os oportunistas que se aproveitam da necessidade de sentir das pessoas e lançam no mercado verdadeiros lixos que viram “os queridinhos” nas mãos de pessoas sedentas de emoções, mesmo que falsas emoções.
Há quanto tempo você não dá ou recebe um abraço sincero?
Fica difícil saber, pois esquecemos como lidar com nossos sentimentos verdadeiros.
Quantas vezes engolimos o choro para que não nos vejam tristes?
E por que fazemos isso?
A resposta é simples: por medo da reação que iremos despertar nos que estão em nossa volta.
Quantas vezes nos sentimos traídos por pessoas as quais confessamos nossos sentimentos?
E por que isso acontece?
Por que não há cumplicidade e fidelidade entre as pessoas?
Será que estamos tão carentes de amigos, de carinho que acabamos entregando nossos segredos para qualquer oportunista que se finja de amigo?
Amizades sinceras são tão difíceis de encontrar que nos resignamos a manter relações superficiais. Essas relações nos tornam cada vez mais insatisfeitos e, como uma bola de neve, essa insatisfação nos deixa a alma doente.
Alma doente? Isso parece um tanto poético, mas é o único termo que encontro para classificar o conjunto de sentimentos dos seres humanos, como se fosse um sinônimo.
Poético ou não, quando a alma das pessoas está ferida o corpo sente-se cansado, sem disposição e acaba adoecendo também.
Somos uma legião de doentes de corpo e alma.
Muito se discute sobre a depressão suas causas e conseqüências, mas nada se fala sobre a falta de sentimento entre as pessoas. A depressão é causada principalmente pela solidão, pelo isolamento.
Vendo na televisão algumas chamadas da nova minissérie global me deu uma vontade imensa de tentar reunir alguns de meus velhos amigos. Lógico que não éramos tão amigos quanto os da minissérie, mas fizemos uma história juntos e teríamos muitas histórias para contar, entretanto a covardia me impede de sequer tentar, até porque eu não teria um motivo que justificasse cada um abandonar sua vida para tal propósito.
Poderia citar aqui vários nomes de pessoas que passaram pela minha vida e que gostaria de rever, entretanto prefiro não fazê-lo por medo de ser injusta e esquecer alguém.
Gostaria de terminar essa publicação deixar um beijo e um abraço bem apertado para todos os amigos que fizeram e fazem parte da minha vida.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A inveja


Dos piores sentimentos que alguém pode sentir, o pior é a inveja.
Antes de me casar eu nuca tinha conhecido de perto uma pessoa invejosa.
Talvez a falta de responsabilidade não tenha deixado que eu não enxergasse que existem pessoas assim.
Eu não sou uma pessoa que goste muito de ter uma vida social muito agitada até porque eu não sou uma pessoa muito sociável, mas quando compramos o nosso terreno, eram muito pouco moradores e, como era uma área meio isolada, as pessoas resolveram que iriam “se ajudar” e foi assim que se formou a confusão.
As pessoas começaram a se reunir nos finais de semana e fazer almoço na casa de um, churrasco na casa de outro e a falar mal uns dos outros.
Eu ficava ali no meio daquele monte de gente que se julgava melhor do que todo mundo ouvindo seus absurdos sem poder falar nada porque meu marido dizia que EU é que arrumava briga com todo mundo.
Eu sinceramente acho a grande maioria das pessoas que moram aqui meio ridículas, pois ao invés de cuidarem da sua própria vida ficam se metendo na vida dos outros.
E eu que sou uma pessoa muito na minha, que faço as coisas no meu tempo e não por obrigação, tive que aturar frases do tipo “se eu fosse você...”
Eis o x da questão: se a pessoa fosse eu, eu não seria eu, então, vai tomar conta da sua própria vida e me deixa em paz!
Vizinho bom para mim é aquele que não bate na minha porta a não ser por uma emergência, quando eventualmente precisa de alguma coisa e convite para festa é, para mim, mera questão de educação, pois eu raramente vou.
Mas eu conheci pessoas nesse meio em que vivo pessoas realmente muito invejosas. Algumas eu considero como vampiros psicológicos, pois nos sugam tão completamente com sua presença que nos deixam cansados e até mesmo doentes.
Para minha sorte, tive que conviver apenas com duas pessoas assim e garanto que não foi a experiência mais agradável na minha vida.
Eu acho realmente estranho o que as pessoas invejam na gente.
Eu sou uma pessoa muito simples e que leva uma vida mais simples ainda: Minha casa não está acabada, não tenho carro, não ostento jóias, nada. Não há nada em minha vida que a meu ver pudesse ser invejado por outras pessoas, mas o invejoso sempre arranja um motivo, mesmo que ele não exista.
Conheci uma pessoa certa vez que nunca realizou nada sozinha e por isso invejava qualquer pessoa que tivesse pago 72 prestações de seu terreno em dia. Ora! Comprar um terreno de 200 metros quadrados em 72 prestações não deveria ser motivo de inveja para ninguém, mas essa criatura invejava!
Essa criatura infeliz invejava até quem comprava geladeira em 24 prestações!
Eu, como passei u tempo no SPC, quando queria comprar algo passava meses economizando e guardando dinheiro e quando comprava algo tinha que ser à vista porque estava com o nome sujo na praça, isso a imbecil não via, mas cada vez que comprava algo a peste arranjava um motivo para vir à minha casa bisbilhotar.
Fosse qual fosse o motivo a bisbilhotona sempre dava um jeito de identificar o produto novo adquirido e, lógico, colocar defeito e falar que não sei quem tinha comprado um BEM melhor. Qué que me interessa quem comprou o quê?
Tudo era alvo da inveja dessa criatura até planta! Se mentira nenhuma! A peste tinha inveja daqueles matinhos coloridinhos que a gente compra por 0,30!!
Fiz de tudo um pouco para afastar esse erva daninha do meu pé: fiz reza, simpatia, oração, macumba, deixei de falar com ela, troquei o número do celular, do telefone fixo, deixei de passar em frente à casa dela (embora fosse o caminho mais curto para sair do condomínio) e, quando eu já estava quase desistindo e me mudando, me ensinaram jogar terra de cemitério na varanda da pessoa que ela mudava.
Só mesmo uma pessoa muito desesperada para tentar uma loucura como essa, mas como o dia de finados estava chegando eu achei que poderia tentar.
No dia de finados eu coloquei uma roupa bem discreta e parti para o cemitério mais próximo de minha casa. Na entrada comprei umas flores e entrei decidida a levar nem que fosse um pouquinho de terra para a jabiraca. Escolhi uma tumba e comecei a fazer meu showzinho: chorei, gritei, me descabelei por um defunto que nem sabia o nome. Depois abaixei discretamente e recolhi um pouquinho de terra do gramado, coloquei num saquinho e sai mais rápido do que entrei. Estava tão ansiosa que nem trouxe a terra para casa. Assim que passei pela porta da dita cuja joguei o saquinho de uma vez só!
Coincidência ou não, três meses depois estaria me livrando da peste!
Recomendo: se você tem um desafeto jogue terra do cemitério na casa dela, é tiro e queda!
Meu outro desafeto era uma senhora que trabalhava comigo. A mulher fazia de um tudo errado! Jogava dinheiro pelo ralo e depois ficava com inveja do pouco que as pessoas conseguiam.
Se contar os absurdos que fazia ao se alimentar, pois como a maioria dos brasileiros, fazia compras uma vez por mês e na semana após as compras começava a cozinhar compulsivamente e a comer como se o mundo fosse acabar. A conclusão era sempre a mesma: nas duas semanas que faltavam para terminar o mês quase não tinha o que comer. Passava os dias de olho na marmita das outras pessoas que trabalhavam com ela.
Não podia ver ninguém comprar nada que pegava seu cartão de crédito e tentava comprar um melhor. Vivia sempre enrolada com dinheiro que faltava e quase enlouquecia todos que conviviam com ela quando chegava a fatura do cartão.
Na minha opinião, a inveja me parece um tipo de doença. Nos dois casos em que citei é fácil perceber o nível e a motivação das duas pessoas. A primeira era uma recalcada que vivia uma vida emprestada e a segunda era uma pessoa totalmente compulsiva.
Eu nunca desejei nada que outra pessoa tenha ou senti inveja de uma pessoa por ela ter conseguido ser mais do que eu. Sempre tive em mente que as coisas que não consegui não era por culpa de ninguém a não ser minha.
Sempre tive meus sonhos sim, mas esses não passavam nem perto da vida de outras pessoas. Talvez eu sofra de uma outra patologia tão grave quanto que é o egocentrismo, entretanto, meu egoísmo não prejudica ninguém.