domingo, 14 de março de 2010

Para essa gente pequena!



Foda-se

(Lily Allen)


Olhe dentro, olhe dentro da sua pequena mente
Então olhe um pouco mais profundamente
Porque nós estamos tão sem inspiração tão enjoados e cansados
De todo o ódio que você cultivou

Então você diz que não é normal ser gay
Eu apenas acho que você é mau
Você é apenas um racista
Que sequer serve para amarrar meus cadarços
Seu ponto de vista é medieval

Foda-se, foda-se muito, muito mesmo
Porque nós odiamos o que você faz
E odiamos toda a sua corja
Então por favor nem mantenha contato

Foda-se, foda-se muito, muito mesmo
Porque suas palavras não condizem
E está ficando muito tarde
Então por favor nem mantenha contato

Você se sente
Você se sente um pouco por fora
por ter uma mente tão pequena?
Você quer ser como seu pai
É aprovação que você busca
Bem, não é assim que você irá encontrá-la

Você, você realmente curte
viver uma vida tão odiosa?
Porque há um buraco no lugar em que sua alma deveria
estar
Você está perdendo o controle
E é realmente nojento

Foda-se, foda-se muito, muito mesmo
Porque nós odiamos o que você faz
E odiamos toda a sua corja
Então por favor nem mantenha contato

Foda-se, foda-se muito, muito mesmo
Porque suas palavras não condizem
E está ficando muito tarde
Então por favor nem mantenha contato

Foda-se, foda-se, foda-se
Foda-se, foda-se, foda-se
Foda-se

Você diz que acha que precisamos ir á guerra
Bem, você já está em uma
Porque são pessoas como você que precisam morrer
Ninguém quer a sua opinião

Foda-se, foda-se muito, muito mesmo
Porque nós odiamos o que você faz
E odiamos toda a sua corja
Então por favor nem mantenha contato

Foda-se, foda-se muito, muito mesmo
Porque suas palavras não condizem
E está ficando muito tarde
Então por favor nem mantenha contato

Foda-se, foda-se, foda-se
Foda-se, foda-se, foda-se

Fila de banco


Marcelo e João eram amigos de longa data, foram vizinhos por anos em um bairro do subúrbio de Niterói, Rio de Janeiro.
Na verdade, chegaram a ser tão chegados que João deu seu filho mais novo para Marcelo batizar.
Porém, Marcelo foi promovido e mudou-se com a família para um bairro de classe média alta e os dois já não se encontravam há anos. Quando muito, Marcelo depositava uma quantia na conta de João, na época do aniversário de seu afilhado.
Os anos se passaram, os dois envelheceram, as crianças cresceram e foi justamente na época do aniversário do Marquinhos, afilhado de Marcelo, filho de João, que os dois vieram a se encontrar na fila de um banco.
Primeiramente, Marcelo se sentiu envergonhado e constrangido por passar anos sem sequer voltar a ver seu afilhado, depois se lembrou de que o amigo tinha o seu endereço e telefone e também nunca mais o procurar, mesmo dizendo que o considerava como um irmão.
Os dois se cumprimentaram emocionados, abraçaram-se e começaram a dialogar sobre coisas triviais como a fila do banco que parecia não andar, depois sobre a vida que, primeiro nos rouba tempo para fazermos o que gostaríamos e depois, nos rouba a saúde para fazer o que desejamos.
Depois de algum tempo em silêncio, Marcelo retoma a conversa perguntando sobre os meninos de João:
- E aí João? E os seus filhos? Já estão crescidos, não é mesmo? O que estão fazendo da vida?
João adquiriu ares de orgulho e responde para Marcelo:
- Meu filho mais velho é engenheiro!
- É mesmo! Respondeu Marcelo.
- Sim senhor! Tem mestrado e doutorado na Alemanha!
Por um momento Marcelo pensa sobre seus dois filhos: A filha já estava descasada pela segunda vez e voltou a morar em sua casa com seus quatro filhos. Seu filho mais novo mudou-se para os EUA é era imigrante ilegal e vivia tentando juntar dinheiro para voltar para o Brasil.
Depois de uma longa pausa, Marcelo resolveu perguntar sobre os demais filhos de João:
- João, você tinha mais dois filhos. Também estão formados?
João enche o peito mais uma vez de orgulho e responde:
- Meu filho do meio é médico neurologista! Com doutorado na Espanha!
Marcelo lembrou de todo dinheiro que gastou na educação dos filhos no Colégio Salesiano de Sta. Rosa, nos cursos de inglês, informática. Lembrou-se da imagem da filha com 100 quilos a mais, 4 crianças em colégios públicos e do filho cabeludo, tatuado, fugindo da imigração norte americana.
Marcelo sentiu até certo medo em perguntar sobre o afilhado que, tão generosamente quanto a vida lhe permitiu, havia agraciado com pomposas quantias em sua data natalícia.
Depois de uns bons minutos de silêncio, Marcelo resolveu perguntar sobre o afilhado, afinal, ele investira em seu futuro e seria uma satisfação pessoal saber que, pelo menos uma vez o seu dinheiro tinha sido investido em algo que realmente valeu à pena:
- E o meu afilhado?
Marcelo fez a pergunta com um sorriso no rosto esperando uma que o amigo respondesse com todo entusiasmo desse mundo, mas o amigo fechou a cara, fez-se sisudo, quase não querendo responder, mas, pela insistência do amigo, respondeu após um suspiro profundo:
- Rapaz, esse é o meu desgosto!
- É mesmo! Mas por quê?
- O Marquinhos nunca quis nada com nada, mal terminou o ensino médio. Só terminou porque fez supletivo. Montou uma quitanda e resolveu trabalhar...
Marcelo, que desanimado por perceber que o seu dinheiro não servira para nada, além de desvirtuar o futuro de todos, percebeu que precisava fazer a pergunta derradeira, aquela que deveria ser o limite entre o suicídio e continuar em sua vida vegetativa:
- Mas pelo menos a quitanda vai bem?
João dá mais um suspiro e responde:
- Vai, vai bem sim. Está dando para sustentar os três.


sexta-feira, 5 de março de 2010

O sentido da vida



Não é o tipo de notícia que se anuncie em rede nacional . Vou então narrar o fato:
Ontem, a Van (Ou perua) em que vou todos os dias para o trabalho , sofreu um grave acidente. Ao atravessar um cruzamento foi abalroada lateralmente por um carro de passeio ., desgovernada , capotou três vezes indo se chocar com um poste . O Saldo? Três mortos e seis feridos. Se eu me feri ? Não . Por um capricho da sorte , justamente ontem fiz um itinerário diferente para o trabalho . mas fico me perguntando: Qual o sentido da Vida?
Faz exatamente um ano que faleceu um de meus melhores amigos . De enfarte. Aos trinta e oito anos!
Voltando ao acidente, para dar cores ainda mais dramáticas aos acontecimentos , uma das vítimas fatais não era passageira da Van . Estava na calçada esperando para atravessar a rua. Nada tinha com o assunto. Uma moça de 26 anos!
Fiquei hoje o dia todo tentando me colocar no lugar daquela moça , refazer seus últimos passos. Com certeza levantou-se às 6:30 para mais um dia de trabalho . Tomou banho , abriu a gaveta , pegou uma calcinha limpa . Vestiu uma roupa , tomou seu café com pão e “Qualy”. Beijou seu filho, despediu-se do marido (Se os tinha) ,Tomou sua condução , saltou no mesmo lugar onde saltara na quarta, na terça, e onde saltaria hoje , se continuasse viva . Na chuva fina da manhã completava seu trecho de caminhada diário , para mais um dia de balconista ou atendente em algum consultório médico (Comuns naquela região) . Talvez pensasse: “Mês que vem pago a última prestação da geladeira. Já posso ir às Casas Bahia dar entrada naquela Tv de LCD Linda!”.
Parou na esquina, olhou para os lados . Aí veio a Van desgovernada , o choque “Meu Deus!”... O vácuo... O fim!
Às vezes tento encontrar algum sentido nisso tudo? E tenho medo de morrer ! Vocês já pararam pra pensar que amanhã é uma mera abstração?E que, em contrapartida a morte é um documento registrado ? Só que sem data? Porque afinal lutamos tanto? Cobiça, vaidade... Pra que?
Da pobre moça , não soube sequer o nome. Mas querem saber? Meu microondas tava um “caco” . Ia comprar outro mês que vem. Comprei hoje. Sei lá se estou aqui mês que vem!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Não se pode confiar em ninguém



Encontrei Marcos fazendo compras em uma grande rede de supermercados.
Fazia tempo que a gente não se via, então, Marcos decidiu me acompanhar enquanto fazia minhas compras.
Íamos caminhando e conversando pelas gôndolas do mercado e éramos acompanhados por uma sorridente senhora, que prestava atenção em cada palavra que trocávamos.
Puxei pela memória, tentando associar a imagem daquela senhora na vida de meu amigo, mas não conseguia me lembrar de quem se tratava.
Marcos não parecia incomodado com a companhia da sorridente senhora que ia enchendo seu carrinho, enquanto Marcos carregava apenas dois ou três itens em sua cestinha.
Imaginei que a senhora estava fazendo as compras da casa, enquanto ele supria suas necessidades mais urgentes, pois em sua cestinha havia apenas uma pasta de dentes, dois sabonetes, algumas pilhas e um xampu barato.
Eu estava mesmo intrigada, pois, além de não me lembrar da “suposta parenta” de meu amigo, seus acenos constantes e sorrisinhos amigáveis já estavam me deixando irritada.
Como realmente, por mais que puxasse pela memória, não conseguia me lembrar dela e, sabia que a mãe de Marcos já tinha falecido há mais de 10 anos, resolvi perguntar quem era a estranha figura.
Marcos me respondeu que chegou no mercado muito aborrecido, pois seu casamento tinha chegado ao final e sua ex-esposa resolveu iniciar uma enorme briga judicial pela guarda das crianças quando essa senhora chegou perto, perguntou o porquê de sua aparência tão triste e falou-lhe que ele se assemelhava muito com seu filho que falecera há apenas dois meses. Daí por diante passou a acompanhá-lo.
Que mal podia haver? Que perigo poderia representar uma senhora tão simpática?
Eu não pensava apenas na velhinha, imaginava o “filho” da velhinha que pudesse estar nos esperando do lado de fora.
Eu, que já estava o suficiente incomodada com a situação, comecei a me apavorar.
Comecei a pensar há quanto tempo essa senhora poderia estar “acompanhando” o meu amigo. Talvez estivesse andando atrás dele desde o calçadão e, como estava triste e desanimado com sua condição, não percebeu.
Enquanto olhava para a sorridente senhora, perguntei ao meu amigo se ele tinha feito alguma retirada no banco ou recebido o seu salário e a resposta foi um suspirante não.
Quanto mais andava pelos corredores do mercado, mais me intrigava com a figura.
Marcos parecia não se importar, afinal, em seu estado, qualquer tipo de atitude simpática lhe servia de consolo.
Como eu já ando suficientemente assustada com tanta violência, resolvi terminar minhas compras e me dirigir ao caixa para pagar as minhas compras.
A senhora, vendo que nos dirigíamos aos caixas, correu para entrar na frente de Marcos.
Ao chegar ao caixa a senhora beijo meu amigo no rosto e lhe fez um pedido ao pé do ouvido:
- Ao me despedir, posso lhe chamar de filho? E você me responderia me chamando de mãe?
Marcos achou que o pedido era inocente e bem razoável para uma pessoa que perdera o filho há tão pouco tempo e respondeu que sim.
Esperamos que a senhora passasse item por item de seu abarrotado carrinho enquanto conversávamos sobre coisas triviais.
Só percebemos que ela já tinha acabado de “passar” suas compras quando ouvimos de longe a despedida:
- Até mais tarde, meu filho!
Marcos, distraidamente respondeu:
- Até mais tarde, mãe.
Marcos foi colocando vagarosamente, como quem não quer voltar para casa, seus poucos itens na esteiras do caixa do mercado.
Quando passou o último item, o caixa anunciou o valor da compra:
- Senhor, são R$ 560,00!
- Como? Respondeu Marcos sem entender o que havia acontecido.
- Comprei apenas uns poucos itens e a conta não poderia ser tão alta!
O caixa já irritado com a falta de atenção do meu amigo, falou rispidamente:
- Não foram poucos itens assim, ou o senhor esqueceu das compras da sua mãe que passaram antes da sua?