domingo, 22 de agosto de 2010

Adeus


Pai, 

A gente podia ter tido essa conversa há 10 anos atrás, mas nós dois sempre fomos muito cabeça duras e isso nunca aconteceu.
Quando você ficou doente, realmente fiquei sem ter o "meu porto seguro". Sabia que nunca mais teria mais ninguém para me ajudar nas horas em que estivesse em dificuldade.
Nesses 10 anos, embora você não me reconhecesse mais, sabia que você estava lá, que podia olhar para você, segurar as suas mãozinhas, te ajudar a caminhar...
Hoje está fazendo uma semana que vi você partir de vez e, me desculpa, mas não está sendo nada fácil para mim.
Eu sei que tudo foi muito difícil para você, que estava sofrendo muito, tento me consolar com isso, mas está doendo muito.
Todos me dizem para eu não chorar para que você possa partir em paz, mas eu não estou conseguindo fazer isso.
Talvez eu seja egoísta demais para isso, mas tudo que sou é parte do que você me ensinou. Fez de mim a sua "bonequinha" e me prometeu que cuidaria de mim para sempre.
Se você realmente estivesse aqui agora, estaria me recriminado, pois eu só te vi chorar uma vez em toda a sua vida: quando soube da morte da sua mãe.
Eu fui egoísta desde o primeiro momento, pois quando você teve o "derrame", o médico disse que você ia morrer e fui eu quem transferiu você de hospital. Eu fui responsável por 10  anos de sofrimento para você e para a minha mãe que teve que cuidar de você.
Há 3 meses, quando estive na sua casa, minha mãe não conseguia internar você em lugar nenhum e eu enchi a paciência de todo mundo até conseguir um lugar para você. 
Mais 3 meses sofrendo porque eu queria a sua presença física!
Pai, me desculpa por todo sofrimento que te causei.

Um comentário:

Roderick Verden disse...

Comovente, Katia, comovente mesmo! Não tenho palavras...